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Tensões emocionais, sobrecarga mental e expectativas familiares tornam o fim do ano um período de maior instabilidade dentro de casa
As semanas finais do ano costumam gerar um aumento expressivo nas tensões conjugais, segundo o psicólogo Danilo Suassuna, doutor em Psicologia e diretor do Instituto Suassuna. Ele explica que, além de marcar o encerramento de ciclos pessoais e profissionais, dezembro concentra fatores de estresse que se acumulam silenciosamente: cobranças financeiras, desgaste emocional, reuniões familiares e maior convivência dentro de casa. Quando combinados, esses elementos criam um ambiente propício para conflitos que impactam diretamente crianças e adolescentes.
“O fim do ano funciona como uma lupa emocional. Tudo o que vinha sendo administrado frustração, cansaço, expectativas ganha escala. E, quando o casal já está fragilizado, o conflito se instala com facilidade”, afirma Suassuna.
Pesquisas citadas em estudos de saúde mental mostram que períodos de maior pressão social e financeira elevam índices de irritabilidade, ruptura comunicacional e estresse percebido. Dados nacionais também indicam aumento de sintomas de ansiedade e queda de qualidade do sono no fim do ano, especialmente entre adultos responsáveis pelo cuidado de filhos.
As férias escolares, a reorganização da casa e as demandas familiares frequentes criam um cenário em que casais convivem mais horas e com menos pausas. Esse adensamento de rotina, explica Suassuna, acentua divergências que já existiam.
“O ambiente doméstico se transforma. Há mais tarefas, mais expectativas e menos tempo de silêncio. Quando não há diálogo saudável, a casa se torna emocionalmente ruidosa e os filhos absorvem tudo”, afirma o psicólogo, que há anos discute o impacto da instabilidade relacional no desenvolvimento emocional de crianças e jovens.
Além disso, dezembro costuma ser marcado por revisões pessoais e profissionais. Metas não cumpridas, sensação de improdutividade e comparações sociais amplificadas pelas redes fazem com que muitos adultos cheguem ao fim do ano com menor tolerância emocional.
Estudos sobre saúde mental infantojuvenil mostram que jovens expostos a ambientes instáveis tendem a apresentar maior incidência de ansiedade, irritabilidade e dificuldades de regulação emocional. As alterações hormonais típicas da adolescência tornam esse grupo ainda mais vulnerável a variações do clima familiar.
Segundo Suassuna, o impacto é rápido e silencioso. “Adolescentes percebem tensões antes mesmo que os pais admitam a existência de um conflito. Eles leem a mudança de tom, o distanciamento, as discussões veladas. Essa instabilidade repercute no humor, na capacidade de concentração e na sensação de pertencimento”, explica.
Crianças pequenas expressam o desconforto de outras formas: regressões comportamentais, choro frequente, dificuldades de sono e maior necessidade de atenção. Esses sinais, segundo o especialista, não devem ser interpretados como birra, mas como comunicação emocional.
A idealização das festas de fim de ano reforçada por narrativas culturais e redes sociais cria um ambiente de alta pressão. A crença de que a família “deveria estar bem” impede que casais conversem sobre tensões reais e busquem ajuda quando necessário.
Essa expectativa é especialmente prejudicial para adolescentes, lembra Suassuna. Em pesquisas analisadas pelo especialista, jovens que convivem com conflitos silenciosos tendem a apresentar maior risco de isolamento, autocrítica e ansiedade prolongada, temas também presentes em levantamentos sobre saúde emocional realizados nos últimos anos.
Para Suassuna, o caminho passa por organização prática e disponibilidade emocional. Ele destaca três frentes de proteção:
- Alinhar expectativas entre os adultos: conversas objetivas sobre responsabilidades, gastos e limites
- Criar momentos de descanso real: pausas intencionais que aliviem o acúmulo emocional do fim de ano.
- Preservar previsibilidade para os filhos: rotinas simples de sono, alimentação e convivência reduzem a ansiedade de crianças e jovens.
“O que protege uma criança não é a ausência de conflitos, mas a forma como os adultos lidam com eles. A previsibilidade emocional é um dos maiores fatores de segurança para o desenvolvimento”, afirma o psicólogo.
Ele reforça que buscar apoio psicológico individualmente ou em casal é uma estratégia de prevenção, não um indicativo de fracasso. Em análises anteriores, Suassuna destaca que a saúde mental depende da qualidade das relações e da capacidade de manejo emocional no cotidiano familiar.
Sobre Danilo Suassuna
Danilo Suassuna é psicólogo e doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). Atua com adolescentes e jovens adultos, unindo ciência, escuta e presença para compreender os desafios emocionais da vida contemporânea.Para mais informações acesse o instagram: @danilosuassuna.
Informações à Imprensa: Carolina Lara carolina@carolinalara.com.br
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