Pesquisadores
descobriram que vírus mira glóbulos brancos para 'enganar' o corpo durante
gestação
O vírus da zika, relacionado a microcefalia e
outros problemas de saúde congênitos, suprime o sistema imunológico de mulheres
grávidas para infectar os fetos, de maneira muito similar à atuação do HIV,
descobriram pesquisadores da Escola Keck de Medicina da Universidade de
Southern California, nos Estados Unidos. A partir de um estudo publicado na
atual edição da "Nature Microbiology", eles concluíram que o vírus da
zika mira glóbulos brancos específicos — asism como o vírus que causa a Aids —,
o que faz com que o corpo da grávida não consiga combatê-lo.
As grávidas são
mais suscetíveis ao vírus da zika porque a gravidez naturalmente já suprime o
sistema imunológico da mulher para que seu corpo não rejeite o feto, que é
essencialmente é um corpo estranho — afirma Jae Jung, presidente do
Departamento de Microbiologia Molecular e Imunologia da universidade — Nosso
estudo mostra que as mulheres gravidas são mais propensas à supressão
imunológica, e que o zika explora essa fraqueza para infectar o feto e se
replicar.
A descoberta é
considerada um passo importante para melhorar o destino das gestantes e dos
bebês que ainda vão nascer, segundo Suan-Sin Foo, autor principal do estudo e
pesquisador associado no laboratório de Jae Jung.
Anteriormente,
os colegas identificaram duas proteínas do vírus da zika responsáveis pela
microcefalia. Este foi um primeiro passo para evitar que as mães infectadas com
o vírus deem à luz bebês com cabeças anormalmente pequenas.
'ENGANANDO'
OS GLÓBULOS BRANCOS
Jung e seus
colegas testaram as cepas do vírus da zika africano e asiático em amostras de
sangue de homens saudáveis, mulheres não grávidas e mulheres grávidas de 18 a
39 anos. Em um primeiro experimento, eles infectaram sangue obtido de mulheres
não grávidas e grávidas com ambas as cepas do vírus. As amostras de sangue
foram então analisadas no pico de infecção.
O vírus
tornou-se um alvo para os glóbulos brancos chamado "CD14 + monócitos"
que se transformam em macrófagos — algo como grandes sacos que
"engolirão" e eliminarão vírus, bactérias e detritos celulares para
tornar o corpo saudável.
Entretanto, a
cepa asiática de zika fez essas células brancas se transformarem em
"macrófagos M2", que dizem ao sistema imunológico para desligar
porque a ameaça acabou. O sinal falso prejudica todo o sistema e permite que o
vírus se reproduza rapidamente.
As mulheres
grávidas, naturalmente, têm níveis mais elevados de macrófagos M2
imunossupressores para evitar que o útero rejeite o feto. No entanto, a cepa do
vírus asiático aumenta ainda mais a reprodução de macrófagos M2.
Os pesquisadores
descobriram que o vírus asiático da zika é mais perigoso durante o primeiro e o
segundo trimestre de gestação, quando o vírus pode aumentar a supressão
imunológica. Durante o terceiro trimestre, o sangue de gestantes infectadas e
mulheres não grávidas era aproximadamente o mesmo. Truque os
cavaleiros brancos do corpo
No estudo, a
infecção de apenas 4% dos glóbulos brancos com vírus da zika foi suficiente
para converter uma grande população de leucócitos — os glóbulos brancos — em
macrófagos M2 imunossupressores.
A infecção do
vírus da zika africano aumentou a supressão imunológica em torno de 10%. Esse
índice, no entanto, passou para quase 70% no caso das grávidas infectadas com o
vírus asiático.
— Durante a
gravidez, o corpo hospedeiro é propenso a infecção oportunista — destaca
Suan-Sin Foo. — Com a ajuda do sistema imunológico naturalmente mais fraco das
mulheres grávidas, é possível que o vírus da zika asiático se infiltre no útero
e se manifeste no bebê vulnerável.
CRÍTICA SOBRE
TESTES COM VACINAS CONTRA A ZIKA
Os pesquisadores
que conduziram o estudo publicado na "Nature Microbiology" criticam o
fato de que os experimentos para chegar a uma vacina contra a zika não incluem
mulheres grávidas. Nenhum dos ensaios clínicos de Fase 1 para uma vacina da
zika realizados atualemente inclui gestantes, o que os dois cientistas destacam
como "surpreendente" porque os problemas congênitos causados pelo
vírus são justamente a razão pela qual as pessoas estão tão ansiosas para
desenvolver uma vacina.
Cerca de 3 mil
casos de microcefalia foram associados a mães infectadas com o vírus da zika
antes do parto, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde.
As vacinas do
vírus da zika em desenvolvimento parecem ser altamente eficazes, mas estão
sendo testadas entre mulheres não grávidas, com química corporal diferente da
de mulheres grávidas — ressalta Jung. — É faz sentido que a dose de vacina
recomendada, embora eficaz para mulheres não grávidas, possa não ser
suficientemente potente para as grávidas porque seus corpos são mais tolerantes
aos vírus.
Fonte: O Globo
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