Inabela Souza da Silva Tavares, 31 anos, é mãe de Graziella,
10 meses, e vive em Recife (PE). Ela conta, a seguir, tudo o que viveu com a
filha desde que descobriu a microcefalia
“A prova do poder de Deus
é minha filha Graziella. Durante a gestação, os médicos diziam que ela não
viveria além do terceiro mês após o parto. Agora está aqui, crescendo saudável,
apesar dos pesares. Descobri que minha bebê teria um problema com seis meses de
gravidez, quando fui ao hospital com sintomas de zika. Primeiro acharam que
tinha hidrocefalia, depois viram que era microcefalia. Vivo com o pai dela há
quatro anos. Ele entrou em depressão quando soube. Não conversava, não comia,
parou de trabalhar. Eu passei a fazer o pré-natal sozinha, sem ele. Tinha
consulta toda semana e, a cada vez, os médicos diziam algo pior. Chegaram a
falar que ela ia nascer com as pernas tortas, que não teria os dedos nem os
olhos – e eu não contava mais nada ao meu marido. Já tinha até agendado a
laqueadura para depois do parto, mas o médico me falou para não fazer, porque
minha filha não ia sobreviver. Saí chorando da consulta. O medo era grande.
Tive que fazer uma cesárea às pressas, antes de completar oito meses. Eu
esperava pelo pior. Só me acalmei quando meu marido disse: ‘Amor, nossa filha é
linda’. Minha pressão começou a baixar. Foi uma gritaria na sala de parto. Eu
consegui ver a Graziella. Olhei as mãozinhas e os pezinhos, procurando todos os
defeitos que me falaram, mas ela era perfeita. Atualmente preciso levá-la a
semana toda a hospitais para fazer estimulação e fisioterapia. Por isso, estou
um pouco em falta com minha filha mais velha, Flávia, 11 anos. Ela está morando
com minha mãe, para não ficar sozinha o dia todo em casa. Às vezes, Flávia me
liga e cobra: ‘Mãe, você só está dando amor a uma filha’. Eu converso muito,
explico que a bebê precisa de cuidados especiais. Digo assim: ‘Estou lutando
para que sua irmã tenha a mesma vida que você tem, para que ela ande, fale,
enxergue, escute e conheça as pessoas’.”
Inabela Souza da
Silva Tavares, 31 anos, vendedora, é mãe de Graziella, nascida em 25/10/2015,
em Recife (PE).
*Este depoimento é
parte da reportagem especial "Microcefalia: um ano de epidemia", que
traz mais nove histórias emocionantes publicada na edição de setembro da
Revista Crescer, e. Já nas bancas.
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