terça-feira, 1 de março de 2016

Não é só microcefalia: bebês de PE têm irritação, epilepsia e rara atrofia



Seis meses depois dos primeiros casos surgirem, o monitoramento da geração de crianças com microcefalia nascidas em Pernambuco após o surto de zika já demonstra que a má-formação vem acompanhada de outros problemas, como doenças congênitas, irritabilidade e epilepsia.

Segundo a neuropediatra Vanessa Van Der Linden, a primeira a notificar a relação entre o aumento nos casos de microcefalia e o vírus no Estado, os bebês têm apresentado características diferentes de outras microcefalias por causa infeciosa.

Ela, que é responsável pelo acompanhando de crianças na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) e no hospital Barão de Lucena, no Recife, conta que desenvolveu uma espécie de "feeling" depois de atender tantos casos e já sabe dizer quando um exame indica má-formação provocada pelo vírus.

Todos os pacientes, explica ela, apresentam calcificações diferentes de outras microcefalias e lesões no córtex com padrão semelhante, na parte superficial, que surgem até o quarto mês de gestação, quando a região do cérebro do bebê é completamente formada.

A médica destaca que os bebês têm uma característica que não costuma ser comum em outros casos de microcefalia: a irritabilidade.

"Alguns choram quase 24 horas por dia. Eles têm os reflexos bem aguçados; qualquer barulho, levam um susto


O choro, explica ela, não seria por dor, mas por um possível desenvolvimento precoce dos reflexos, que os leva a uma superexcitação. Também se investiga se o refluxo gástrico pode estar por trás da irritação --por ser algo novo, ainda não há nenhuma certeza científica.

Outro problema que os médicos estão notando é o desenvolvimento da epilepsia, a partir dos dois meses de vida. 

Mas o que mais tem chamado a atenção da neuropediatria são os casos de artrogripose, uma doença congênita que causa deformidade e rigidez nas articulações.

"Não é um problema nos membros, mas decorre de problemas neurológicos que os fizeram ter poucos movimentos na barriga da mãe. É como colocar seu braço no gesso por um ano; quando você tira o gesso, o braço está duro", explica.

Segundo ela, crianças com outros tipos de microcefalia não apresentam esta condição.

"É algo bem diferente de microcefalias infecciosas, que são mais semelhantes. Talvez a zika tenha uma predileção maior pelos neurônios


Até o momento, sete bebês entre os mais de 80 que a médica acompanha já tiveram o problema confirmado por exames. Outros ainda passam por análises, e o número deve crescer.
 
Carolina Albuquerque trabalha na AACD estimulando bebês
 fisioterapeuta Carolina Albuquerque, que trabalha na estimulação precoce desses bebês na AACD, também notou que crianças com microcefalia têm apresentado irritabilidade e problemas mais graves.




"Têm crianças que vêm com o quadril dobrado, que não poderá sequer ficar em pé. Em alguns casos pode precisar até de cirurgia, mas essa leva ainda é de bebês pequenos. Pensar nisso é coisa para futuro", diz.

O filho de Isadora Correia Lima, 24, é um dos bebês que passa por fisioterapia para estimular a atividade motora. Ela já sabe que os minutos de sessão serão de angústia.



"Na fisioterapia, ele não para de chorar. O estímulo visual, por exemplo, nunca conseguimos fazer, porque ele chora com raiva."

Fonte: Notícias uol


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