quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Professor da UFC é um dos autores de pesquisa publicada na "The Lancet" sobre os riscos de câncer causados por agrotóxicos

O professor Marcelo José Monteiro Ferreira, da Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal do Ceará (UFC), é um dos autores do artigo "Carcinogenicity of atrazine, alachlor, and vinclozolin" (Carcinogenicidade de atrazina, alaclor e vinclozolina, em tradução literal), publicado em novembro na revista The Lancet Oncology, que possui fator de impacto 35,9 e classificação Qualis A1.

A pesquisa avaliou a carcinogenicidade de três agrotóxicos amplamente utilizados: atrazina, alachlor e vinclozolin. O trabalho foi conduzido em colaboração com o Grupo de Trabalho da International Agency for Research on Cancer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS), do qual o professor faz parte.

Foto do professor Marcelo Ferreira, do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da UFC.
O professor Marcelo Ferreira, do Departamento de Saúde Comunitária da FAMED/UFC, é membro da International Agency for Research on Cancer (IARC) desde o início de 2025 (Foto: Acervo Pessoal)

Segundo o professor Marcelo, o objetivo é informar a sociedade e os tomadores de decisão, principalmente aqueles que dialogam com as políticas públicas de saúde e meio ambiente, de que esses agrotóxicos passaram por um processo de avaliação extenso, criterioso e imparcial quanto ao seu potencial de causar câncer em seres humanos.

“O estudo mostra que a exposição aos ingredientes ativos desses agrotóxicos pode contribuir, a depender da sua classificação, para o desenvolvimento de diferentes tipos de câncer na população”, explica o docente, que integra o Departamento de Saúde Comunitária da Famed/UFC.

A IARC utiliza um sistema com cinco categorias para classificar o potencial carcinogênico de substâncias:

  • Grupo 1: Carcinogênico para humanos
  • Grupo 2A: Provavelmente carcinogênico para humanos
  • Grupo 2B: Possivelmente carcinogênico para humanos
  • Grupo 3: Não classificável quanto à carcinogenicidade para humanos
  • Grupo 4: Provavelmente não carcinogênico para humanos

No estudo, a atrazina, previamente avaliada pela IARC em 1998 como Grupo 3, foi reclassificada para Grupo 2A, ou seja, provavelmente carcinogênica para humanos. O alachlor também foi enquadrado no Grupo 2A, enquanto o vinclozolin foi classificado como Grupo 2B, possivelmente carcinogênico. “Esses dois agrotóxicos foram avaliados pela primeira vez pela IARC”, destaca o docente.

Acesse o infográfico disponibilizado pela IARC/OMS com as classificações

O professor Marcelo é membro da IARC desde o início de 2025, à convite da OMS, participando de um grupo internacional com 32 pesquisadores de países como Japão, Inglaterra, França, Estados Unidos, Itália, Canadá, Rússia, Portugal, Nigéria e Brasil.

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Integrantes do Grupo de Trabalho da International Agency for Research on Cancer (IARC), da Organização Mundial da Saúde (OMS) (Foto: Acervo Pessoal)

IMPACTO SOCIAL E CIENTÍFICO - O estudo representa um avanço significativo para o conhecimento sobre os riscos dos agrotóxicos. A nova classificação fornece suporte para instituições de saúde, órgãos reguladores e formuladores de políticas públicas, fortalecendo ações de vigilância e prevenção, sobretudo entre populações com exposição direta ou indireta, como trabalhadores da agricultura.

“Esses resultados são de extrema relevância, sobretudo para o Brasil, que é o segundo maior consumidor de Atrazina no mundo. A avaliação desses agrotóxicos contribui para que agências nacionais de saúde utilizem essas informações como embasamento científico para suas ações de prevenção da exposição a potenciais carcinogênicos”, destaca o pesquisador.

PRÓXIMOS PASSOS - A publicação na The Lancet Oncology soma-se a uma série de trabalhos relacionados ao tema conduzidos pela IARC. Em 2026, será lançada uma nova publicação sobre a pesquisa.

“Tivemos uma série de publicações relacionadas a esse trabalho, resultado de um ano de atividades desenvolvidas e coordenadas pelos pesquisadores da IARC. A Monografia nº 140 será publicada pela OMS dentro de aproximadamente dez meses, pois ainda estamos reunindo informações complementares, além de ser necessário um rigoroso processo de revisão”, conclui o professor.

Fonte: Marcelo Ferreira, professor da Faculdade de Medicina da UFC – e-mail: marceloferreira@ufc.br

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