terça-feira, 30 de setembro de 2025

Setembro Amarelo: saiba identificar os sinais de uma crise suicida e entenda a importância da escuta ativa e sem julgamentos



Segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 14 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano, o que representa uma média preocupante de 38 mortes por dia

Passamos a viver de maneira automática, mesmo que seja de forma inconsciente, seguindo sempre a mesma rotina, nos mesmos horários, realizando as tarefas diárias, permitindo abusos psicológicos no trabalho e na vida pessoal, muitas vezes (ou quase sempre) em silêncio. Esse acúmulo de sentimentos acaba se transformando em um caos interno que afeta a saúde física e mental. 
 
Dados do Ministério da Previdência Social, divulgados em 2024, revelam uma crise alarmante de saúde: quase meio milhão de pessoas foram afastadas do trabalho por transtornos mentais, o maior número em pelo menos 10 anos. Em comparação com o ano anterior, as 472.328 licenças médicas concedidas representam um aumento de 68%.
 
Dos 3,5 milhões de pedidos de licença no INSS, 472 mil solicitações foram atendidas por questões de saúde mental. Os dados apontam que em 64% dos atendimentos realizados a maioria são mulheres, com idade média de 41 anos, e que possuem quadros de depressão e ansiedade. Elas passam até três meses afastadas do trabalho. 
 
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), aproximadamente 14 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano, o que equivale a uma média alarmante de 38 mortes por dia, no Brasil. Esses números refletem uma triste realidade e apontam para a crescente preocupação com a saúde mental no país.
 
O cuidado com a saúde mental é fundamental tanto para prevenir doenças graves quanto para salvar vidas. A depressão, por exemplo, é uma das principais causas do suicídio e pode se manifestar de diversas formas. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são cruciais para ajudar as pessoas a lidarem com suas dificuldades emocionais e melhorarem a qualidade de vida.
 
“O Setembro Amarelo é um movimento de conscientização que, ao longo dos anos, tem se consolidado como um dos principais marcos no combate ao suicídio. A campanha convida a sociedade a romper o silêncio, reduzir estigmas e ampliar o diálogo sobre a saúde mental. O suicídio deve ser compreendido como um fenômeno complexo, influenciado por aspectos psicológicos, sociais, culturais e biológicos. Mais do que um ato individual, trata-se de um processo de intenso sofrimento, frequentemente acompanhado de sentimentos de desesperança e desamparo”, orienta Guilherme Cosme, neuropsicólogo na INSELF Neuropsicologia Avançada.
 
Sinais de alerta de uma crise suicida
Identificar os sinais de uma crise suicida pode ser decisivo para salvar vidas. Entre os principais destacam-se:
 
• Isolamento social e afastamento das rotinas habituais.
• Expressões verbais diretas ou indiretas de desesperança e desejo de morrer.
• Oscilações emocionais intensas, com episódios de irritabilidade, tristeza profunda ou apatia.
• Alterações no sono e no apetite, refletindo desregulação emocional.
• Despedidas incomuns, como doar pertences ou escrever mensagens finais.
• Cada um desses sinais deve ser considerado um pedido de ajuda, nunca um gesto irrelevante.
 
Como oferecer ajuda efetiva
A ajuda começa com o escutar com empatia, não julgar, não interromper e não minimizar a dor do outro. O apoio pode incluir:
 
• Escuta ativa e validante, reconhecendo a gravidade do sofrimento.
• Apoio na busca de atendimento especializado, envolvendo psicólogos e psiquiatras.
• Acionamento de redes de apoio, familiares, amigos e colegas próximos.
• Encaminhamento a serviços especializados, como o CVV (188) ou pronto-socorro em situações de risco iminente.
 
O papel das abordagens psicoterapêuticas 
Nos últimos anos, diversos protocolos estruturados têm se mostrado eficazes na prevenção do suicídio.
 
• A Terapia Cognitivo-comportamental Breve para Prevenção do Suicídio, desenvolvida por Bryan, Rudd e Botega (2024), oferece uma intervenção focada e de curta duração. O método se concentra em identificar padrões de pensamento e comportamento associados à crise suicida, promovendo estratégias práticas para aumentar a segurança, reduzir impulsividade e fortalecer recursos de enfrentamento. Estudos mostram que mesmo um número limitado de sessões pode reduzir significativamente o risco de recorrência de tentativas.
• A Terapia Comportamental Dialética (DBT), criada por Marsha Linehan (2010; 2018) e expandida por Swenson (2024), combina aceitação e mudança. Técnicas de mindfulness, tolerância ao mal-estar e regulação emocional ajudam a pessoa a atravessar momentos críticos sem recorrer ao suicídio.
• A Terapia Cognitivo-comportamental tradicional também permanece como um pilar essencial, especialmente nos modelos adaptados à crise suicida, ao trabalhar com reestruturação cognitiva e prevenção de recaídas.
 
Essa diversidade de abordagens revela que não existe uma única resposta, mas um conjunto de estratégias que, quando articuladas, podem oferecer suporte robusto e salvar vidas.
 
Dimensão social e cultural 
O suicídio não pode ser visto apenas como uma questão individual. Ele está atravessado por fatores sociais e culturais, como desigualdades, preconceitos e ausência de políticas públicas efetivas. Ambientes escolares e profissionais, por exemplo, precisam se preparar para identificar sinais e criar redes de acolhimento. 
 
Programas como o Ressignificações e Acolhimento Integrativo do Sofrimento Existencial, o RAISE, (Fukumitsu, 2019) mostram o impacto positivo de ações comunitárias que integram prevenção e posvenção. Além disso, é importante lembrar que pessoas neurodivergentes, como autistas, muitas vezes enfrentam sobrecarga emocional e social, o que aumenta a vulnerabilidade ao suicídio quando não há ambientes de aceitação e inclusão.
 
Conclusão
O Setembro Amarelo deve ser entendido não apenas como uma campanha, mas como um compromisso permanente com a valorização da vida. Reconhecer sinais, oferecer apoio e garantir o acesso a tratamentos, como a DBT (Terapia Comportamental Dialética) e programas de prevenção comunitária, são passos concretos na construção de uma sociedade mais acolhedora e resiliente. “Mais do que estatísticas, estamos falando de pessoas, histórias e vínculos que podem ser preservados quando a escuta, a empatia e a intervenção precoce se tornam prioridade”, finaliza o neuropsicólogo.

 

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