quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Texto relato de uma mãe de filho autista


Quando descobri que meu filho era autista, meu mundo não desabou de uma vez. Ele foi se desfazendo em pedaços, lentamente, a cada consulta, a cada explicação médica, a cada olhar de pena que eu recebia. Não, eu não queria que meu filho fosse autista. Não porque ele não seja maravilhoso, mas porque o autismo é duro, impiedoso, cansativo — e ninguém que não vive isso pode entender.

As pessoas de fora enxergam apenas uma criança “especial”, “única”, “cheia de luz”. E ele é tudo isso, sim. Mas ninguém vê as crises no meio da madrugada, os gritos que ecoam pela casa sem que eu consiga acalmá-lo, o olhar perdido quando tento ensinar algo simples e ele não consegue acompanhar. Ninguém sente a dor que é ouvir de outros pais sobre as conquistas dos filhos enquanto o meu ainda luta para fazer coisas que parecem tão básicas: olhar nos olhos, formar uma frase completa, aceitar um toque.

O autismo não vem sozinho. Ele traz insegurança, ansiedade, limitações sociais, atrasos de fala, dificuldades motoras. Ele exige terapias, consultas, adaptações, e uma mãe que nunca pode desligar. É viver em estado de alerta constante, tentando decifrar um mundo que não faz sentido para ele — e, muitas vezes, também não faz para mim.

Não, eu não queria que meu filho fosse autista. Eu queria que ele tivesse amigos sem precisar que eu preparasse o terreno. Eu queria vê-lo correndo no parquinho sem medo de que se machuque ou se perca. Eu queria que ele fosse compreendido sem que eu tivesse que explicar sua condição a cada nova interação.

Mas, apesar de todo o sofrimento que a condição provoca, o amor que sinto por ele é maior que qualquer diagnóstico. Eu não amo “apesar” do autismo. Eu amo com o autismo, junto com o autismo, contra o autismo. Ele é meu filho, minha vida, meu maior motivo para seguir lutando.

Este texto não é sobre aceitação. É sobre dor. É sobre a realidade que ninguém vê. É sobre ser mãe e carregar nos ombros uma batalha diária que não pedi para lutar, mas que enfrento porque, no fim das contas, é pelo meu filho — e por ele, eu faria tudo de novo. (Drª Fernanda Nobre - Médica Dermatologista)

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