As pessoas de fora enxergam apenas uma criança “especial”, “única”, “cheia de luz”. E ele é tudo isso, sim. Mas ninguém vê as crises no meio da madrugada, os gritos que ecoam pela casa sem que eu consiga acalmá-lo, o olhar perdido quando tento ensinar algo simples e ele não consegue acompanhar. Ninguém sente a dor que é ouvir de outros pais sobre as conquistas dos filhos enquanto o meu ainda luta para fazer coisas que parecem tão básicas: olhar nos olhos, formar uma frase completa, aceitar um toque.
O autismo não vem sozinho. Ele traz insegurança, ansiedade, limitações sociais, atrasos de fala, dificuldades motoras. Ele exige terapias, consultas, adaptações, e uma mãe que nunca pode desligar. É viver em estado de alerta constante, tentando decifrar um mundo que não faz sentido para ele — e, muitas vezes, também não faz para mim.
Não, eu não queria que meu filho fosse autista. Eu queria que ele tivesse amigos sem precisar que eu preparasse o terreno. Eu queria vê-lo correndo no parquinho sem medo de que se machuque ou se perca. Eu queria que ele fosse compreendido sem que eu tivesse que explicar sua condição a cada nova interação.
Mas, apesar de todo o sofrimento que a condição provoca, o amor que sinto por ele é maior que qualquer diagnóstico. Eu não amo “apesar” do autismo. Eu amo com o autismo, junto com o autismo, contra o autismo. Ele é meu filho, minha vida, meu maior motivo para seguir lutando.
Este texto não é sobre aceitação. É sobre dor. É sobre a realidade que ninguém vê. É sobre ser mãe e carregar nos ombros uma batalha diária que não pedi para lutar, mas que enfrento porque, no fim das contas, é pelo meu filho — e por ele, eu faria tudo de novo. (Drª Fernanda Nobre - Médica Dermatologista)
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