quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Meac já realizou 45 cirurgias em bebês ainda no útero da mãe para correção de malformação da coluna vertebral

Imagem: foto mostra uma sala de cirurgia escura com luz focada em um útero fora da barriga de uma mulher e dois médicos estão ao redor segurando instrumentos cirúrgicos
O primeiro procedimento com útero exposto no Ceará foi realizado em 2019 (Foto: Victor Hudson/Ebserh)


A Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), unidade do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (UFC), realizou
 45 cirurgias de correção intrauterina de mielomeningocele via Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2019 e este ano. A mielomeningocele (MMC) é uma malformação grave do tubo neural que pode causar paralisia, hidrocefalia e outras complicações neurológicas. A instituição é pioneira e a única a oferecer o procedimento no estado pelo SUS. O primeiro procedimento com útero exposto no Ceará foi realizado em 2019.

A maternidade, vinculada à rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), é referência no atendimento materno-fetal de médio e alto risco e oferece, entre outros serviços, a correção intrauterina da mielomeningocele (MMC). “Esse procedimento consiste na correção da malformação da coluna vertebral ainda no ventre materno, durante a gestação. Nele, temos acesso ao feto por incisão no útero materno (chamada a céu aberto)”, explica o chefe do Serviço de Cirurgia e Medicina Fetal da Meac-UFC/Ebserh, Herlânio Costa.

Segundo o especialista, a técnica só é possível quando as membranas fetais (âmnio e cório) estão devidamente abertas, permitindo a correção da coluna do bebê de forma semelhante ao que seria feito após o nascimento. Ao final, as membranas são reparadas e o líquido amniótico é reposto, possibilitando a manutenção da gestação até o fim.

cirurgia é indicada entre a 19ª e a 26ª semanas de gestação e realizada por equipe multiprofissional, composta principalmente por especialistas em medicina fetal e neurocirurgia pediátrica. “Há estudos que sugerem que, quanto mais precoce a cirurgia, melhores os resultados neurológicos. Por isso, o diagnóstico antecipado é fundamental para garantir tempo hábil de encaminhamento a centros terciários com especialistas capacitados”, ressalta o médico.

identificação definitiva, em geral, ocorre após a 15ª ou 16ª semana de gestação. No entanto, o ultrassom morfológico de primeiro trimestre (entre 11 e 14 semanas) já pode detectar alguns casos ou indicar sinais indiretos da mielomeningocele, como o estreitamento ou a ausência da translucência intracraniana (quarto ventrículo cerebral).

Segundo o especialista, o diagnóstico muitas vezes é tardio, feito apenas no ultrassom morfológico de segundo trimestre (20 a 24 semanas), quando o prazo para encaminhamento já é mais restrito, dificultando a programação da cirurgia antes da 26ª semana.

“Infelizmente, ainda há pouco conhecimento, tanto da população quanto de profissionais de saúde, de que essa cirurgia está disponível em centros de referência e de que seus benefícios superam os da correção apenas após o nascimento. Em 2025, já realizamos oito cirurgias e temos capacidade para realizar duas ou mais mensalmente”, enfatiza Herlânio.

QUALIDADE DE VIDA – A cirurgia intrauterina proporciona ganhos significativos na qualidade de vida dos bebês, principalmente em aspectos motores. “A chance de andar autonomamente, sem órteses ou próteses, aumenta de cerca de 40% para 80%. A necessidade de cadeira de rodas é reduzida pela metade, e o desenvolvimento de hidrocefalia com necessidade de válvula de derivação cai de aproximadamente 80% para 40% dos casos”, destaca o especialista.

Imagem: foto mostra três médicos em um centro cirúrgico com luz clara e uma pessoa deitada em maca hospitalar com o útero exposto
A cirurgia é realizada por equipe multiprofissional, composta principalmente por especialistas em medicina fetal e neurocirurgia pediátrica (Foto: Victor Hudson/Ebserh)

ACESSO – Na Meac-UFC/Ebserh, o acesso ao procedimento ocorre exclusivamente pelo SUS, mediante encaminhamento à equipe de Medicina Fetal. A paciente passa por avaliação diagnóstica e, se confirmada a indicação, a cirurgia é programada. O fluxo segue as regulações municipal e institucional, com cadastro, triagem e atendimento ambulatorial especializado. Não há ambulatório específico apenas para esse fim, mas o acompanhamento é feito por equipe multiprofissional no ambulatório de Medicina Materno-Fetal, que acompanha gestações de alto risco.

ACOMPANHAMENTO – Após a cirurgia, a gestante é acompanhada pelos Serviços de Medicina Fetal ou de Gestação de Alto Risco devido à possibilidade de parto prematuro, já que há maior risco de rompimento da bolsa ou início precoce das contrações uterinas. “São prescritas medicações para prevenir essas complicações. Além disso, realizamos ultrassons periódicos para acompanhar o sistema nervoso central do bebê, verificar a posição do cerebelo e avaliar a integridade das incisões na coluna fetal e no útero materno”, explica Herlânio.

REFERÊNCIA – O gerente de Atenção à Saúde da Maternidade da Rede Ebserh no Ceará, Edson Lucena, reforça que a oferta desse procedimento pelo SUS representa um avanço significativo na assistência às gestantes e aos fetos com a malformação. “A cirurgia reduz a necessidade de derivação ventricular, melhora a função motora e favorece maior autonomia às crianças. Apesar de ser uma tecnologia de alta complexidade disponível no SUS, não é amplamente ofertada no país, estando restrita a centros habilitados. No Ceará, até o momento, apenas a Meac realiza o procedimento pelo SUS”, destaca.

A realização da cirurgia também impacta no ensino e na pesquisa, integrando diversas áreas – obstetrícia, medicina fetal, neurocirurgia, anestesia, neonatologia, enfermagem e fisioterapia. “Isso proporciona formação prática de alta complexidade para acadêmicos e residentes de diferentes especialidades, além de estimular a produção científica e a divulgação de resultados, contribuindo para o avanço do conhecimento e a qualificação de profissionais em todo o país”, complementa Edson.

PREVENÇÃO – Por fim, Herlânio Costa reforça a importância da realização adequada do ultrassom morfológico, de preferência por especialistas em medicina fetal, para diagnóstico precoce e tempo hábil de encaminhamento. Ele também lembra que a mielomeningocele pode ser evitada na maioria dos casos pelo uso de ácido fólico nos meses que antecedem a gestação. “O ideal é que toda mulher passe por consulta pré-concepcional para receber essas orientações”, conclui.

Fonte: Coordenadoria de Comunicação da Ebserh – e-mail: comunicacao.ch-ufc@ebserh.gov.br / fone: (85) 3366.8183

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