Escrito por Lucas Falconery - lucas.falconery@svm.com.br
Em 2025, uma estratégia particular para controle de arboviroses será implementada no Ceará: a Biofábrica de Wolbachia. Esse termo complexo dá nome à bactéria que, ao interagir com o Aedes aegypti, impede a transmissão da dengue, zika e chikungunya. Por isso, os vetores são chamados de “mosquitos do bem”.
A iniciativa faz parte das ações para controle de arboviroses do Ministério da Saúde, com investimento total de R$ 1,5 bilhão no País. A biofábrica do Ceará será construída no Distrito de Inovação em Saúde, no Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza, na Fiocruz Ceará. A movimentação para o projeto começou ainda em 2015.
Os mosquitos do bem produzidos no Estado serão distribuídos em 1.794 municípios nordestinos, com impacto positivo para 55 milhões de pessoas, nos próximos anos. Para isso, serão contratados profissionais para o funcionamento da fábrica e lançamento dos mosquitos.
“Em janeiro, a gente já coloca a obra no canteiro, nós queremos fazer com que a biofábrica funcione, no mais tardar, até o fim de 2025”, adianta o pesquisador Odorico Monteiro, coordenador da área de Inovação e Empreendedorismo na Fiocruz.
No momento, a tecnologia é usada em 15 países, com redução significativa das arboviroses. Na Austrália e na Colômbia, por exemplo, a queda dos casos de dengue foi maior do que 90%.
Os mosquitos do bem já são utilizados no Brasil, com uma prova de conceito feita em Niterói, no Rio de Janeiro, onde os casos de dengue caíram em 69%, a chikungunya reduziu em 60% e a zika em 37%.
“É uma fábrica com tecnologia própria porque nós vamos produzir ovos e mosquitos com toda a estrutura para usarmos no território”, acrescenta Odorico.
Também serão contratados profissionais para fazer treinamentos e capacitações nos municípios atendidos. “Nossa meta é reduzir ao máximo possível a infecção, porque vamos produzir mosquitos que têm essa bactéria”, projeta o coordenador.
A ideia é produzir uma nova população com a bactéria e, com isso, reduzir os casos de arboviroses. “Quem transmite a dengue é mosquita selvagem, que precisa do sangue, e ao cruzar com o mosquito contaminado dá origem a uma população que nasce com a bactéria e não transmite nenhum dos vírus”, explica Odorico.
Na prática, a metodologia evita a transmissão das quatro formas existentes da dengue, o vírus da zika, da chikungunya e até na febre amarela urbana.
Os mosquitos não são transgênicos e não transmitem doenças, como garantem os especialistas. Os experimentos em laboratório identificaram que a Wolbachia, que é intracelular, não pode ser transmitida para humanos ou outros mamíferos.
“A razão é a sofisticação biológica desse mosquito, muito difícil de ser erradicado, porque não é mais possível lançar inseticida com impacto ambiental, as fêmeas passaram a viver mais e transmitir com muita eficiência”, detalha.
Até o momento, o Ceará teve 11.823 casos confirmados de dengue, de acordo com o monitoramento feito pela Sesa. O Estado não foi afetado como outras regiões do Brasil porque já existe uma certa imunidade coletiva ao sorotipo 2 da dengue, responsável por surtos neste ano.
Casos confirmados de dengue no Ceará
Tecnologia pode reduzir reincidência de arboviroses
Contudo, isso não significa que o Ceará não volte a ter outros picos de casos já que a dengue possui quatro formas diferentes.
“O nordeste brasileiro é uma das áreas do mundo onde a fêmea vive mais, porque as chuvas são intermitentes, é úmido, não faz frio. Então, ao viver mais, aumenta a competência vetorial porque passa mais tempo transmitindo”, frisa.
Fonte: Diário do Nordeste
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