Os sonhos que atravessaram, persistentes, uma longa e cruel pandemia tornaram-se realidade, enfim, na noite dessa quinta-feira, 1º de agosto, para 45 formandos do Campus de Sobral da Universidade Federal do Ceará. Foram inúmeros os caminhos que trouxeram essas 45 histórias de vida ao momento de celebração da vitória.
“Vocês conseguiram chegar até aqui”, destacou o reitor Custódio Almeida, em um discurso que parecia sacudir cada um dos jovens vestidos de beca, para que se dessem conta da grandiosidade daquele feito. A partir de agora, a chancela da UFC acompanhará cada passo dos novos profissionais.
Maria Daiana Rufino Freire, 26, é uma desses que chegaram até aqui. E a emoção de ter alcançado um sonho desde sempre almejado a fazia marejar os olhos e embargar a voz, ao tentar contar sua história. Nascida e crescida em Sobral, ela passou dois anos tentando passar no curso de Medicina. Em 2018, veio a recompensa do esforço: “Foram muitos percalços no caminho. Como venho de família humilde, foi preciso muita força pra conseguir entrar no curso, e só foi possível com o incentivo da minha mãe. Tenho certeza de que, com muito trabalho e dedicação, vou conseguir retribuir tudo isso a ela”, conta, dedicando sua formatura à dona Maria Rufino, sua mãe.
Cotista, a mais nova médica da “Princesinha do Norte”, como é conhecida a cidade de Sobral, afirmava não saber exprimir em palavras o que estava sentindo. Parava, e o exprimia em lágrimas. “Quando a gente alcança esse sonho é algo indescritível. Estou dividida: uma parte de mim está mergulhada em ansiedade pelo que vem pela frente; outra parte está simplesmente feliz em estar vivendo esse momento”, revela.
A emoção de Daiana era compartilhada no enorme sorriso do também cotista Tiago Melo, 24. O mais novo dos 16 filhos da professora primária Maria Aparecida de Melo Nascimento e do agricultor José Avelino do Nascimento veio do interior de Meruoca para buscar formação em Sobral.
Ele conta que, onde cresceu, as condições eram precárias. A casa era de taipa, mas os sonhos ali cultivados eram de ouro. Foi em um curso profissionalizante que surgiu o interesse em ser engenheiro eletricista, mas a vocação para o ofício parecia existir muito antes: “Desde pequeno, eu já desmontava e montava as coisas. Gostava disso”, relembra.
Os 30 quilômetros de ida e os outros 30 de volta que ele percorria para ir de casa à faculdade nunca o desmotivaram. “Foram muitas noites em claro estudando. Tiveram dias difíceis, mas nunca faltou amor e apoio da família, e hoje estou vivendo o dia que, por muito tempo, eu sonhei viver”, celebra.
A partir de agora, ele poderá olhar para os dois irmãos que foram como bússola para ele e afirmar: “Eu também cheguei lá”. Mesmo com todas as adversidades socioeconômicas, ele tem dois irmãos “doutores com doutorado”, um em Agronomia e outro em Ciências Sociais. “Eu sempre me inspirei neles e queria vencer na vida como eles venceram. Hoje, eu venci”, orgulhou-se.
SONHOS QUE UNEM A DIVERSIDADE – Diante de toda a diversidade presente naquele auditório, qual seria o elemento a conectar tantas histórias de vida tão particulares? Foi o que se questionou Alanna Maria de Castro Costa, que assumiu a responsabilidade de fazer o discurso discente da noite. Os sonhos! Foram eles, na reflexão da agora médica, aquilo que uniu cada uma daquelas pessoas ao longo dos últimos anos, perpassados por todo o medo e as incertezas de uma pandemia.
“É difícil dizer ao certo quando um sonho começa. Em alguns casos, ele vem de berço, com as influências familiares. Às vezes, começa durante uma feira de profissões do ensino fundamental. Há também quem escolha a carreira depois de assistir a uma série de TV. E ainda aqueles que assumem o próprio sonho aos 45 minutos do segundo tempo, ao fazer a inscrição no vestibular. Não importa a forma, avassaladora ou sorrateira. Quando a gente menos espera, o sonho tá ali, dominando nossos pensamentos, dormindo e acordando conosco, gritando para ser vivido e realizado, da melhor forma”, refletiu a formanda.
Alanna destacou que a noite era de celebração não apenas pelo fim de uma etapa, “mas pelo início de uma nova jornada, onde enfrentaremos novas responsabilidades e desafios”.
Para o professor Guarany Mont’Alverne de Arruda, orador docente da cerimônia, os novos profissionais formados estão aptos para enfrentar tais deveres e adversidades: “Vocês representam o futuro de suas respectivas áreas e levarão consigo o legado de conhecimento, ética e responsabilidade que a UFC se orgulha de transmitir”, reforçou.
O professor aproveitou o discurso para celebrar a marca de 1.000 médicos e médicas formados no Curso de Medicina do Campus de Sobral, fundado em 2 de abril de 2001. “A história que nos trouxe até este momento é inspiradora e cheia de desafios superados”, relatou o professor, que falou da missão recebida pelo grupo sobralense de estabelecer um curso de Medicina no Interior do Ceará com a qualidade e a eficiência do curso da Capital.
“Ao longo dos anos, essa união e virtude se mostraram mais fortes do que nunca. Cada turma formada, cada novo médico que saiu daqui é um testemunho do compromisso e da dedicação que esses pioneiros estabeleceram. Vocês, formandos de hoje, são o resultado de anos de esforços, de noites sem dormir, de estudos intensos e de um desejo ardente de fazer a diferença na vida das pessoas”, declarou o professor.
Para o reitor Custódio Almeida, a noite celebrou a maior festa da Universidade: a conquista da maioridade intelectual. “O ponto de partida para a conquista da autonomia, uma tarefa permanente e sempre carente de atualização. Agora, vocês estão bem preparados para começar a jornada do conhecimento, porque vocês já detêm capacidade de reconhecer que a ignorância é o maior defeito e o maior desafio a ser superado”, enfatizou.
O reitor compartilhou com os formandos “o desejo mais profundo” que alimentava por cada um daqueles novos profissionais: “Que descubram e tomem consciência nesta colação de grau que, mais do que encerrando um ciclo, vocês estão começando um novo tempo”.
A cerimônia de colação de grau formou, na noite desta quinta-feira, 35 alunos de Medicina, 7 de Engenharia Elétrica, 2 de Computação e 1 de Psicologia.
Fonte: Secretaria de Comunicação e Marketing da UFC – e-mail: coordenacao.ufcinforma@ufc.br
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