sexta-feira, 15 de março de 2024

UFC integra visita a Harvard para apresentar pesquisa sobre efeitos da violência e da covid na atuação de agentes de saúde

Imagem: Na Universidade de Harvard, a comitiva cumprirá uma agenda de encontros com pesquisadores norte-americanos (Foto: Pixabay) 

Com o objetivo de apresentar e discutir resultados da pesquisa intitulada “Effect of covid-19 and violence on the work process and mental health of community agents in Brazil” ("Efeito da covid-19 e da violência no processo de trabalho e na saúde mental dos agentes comunitários no Brasil"), a Universidade Federal do Ceará (UFC) integra comitiva de oito pesquisadores de instituições do Ceará e Pernambuco para visita técnica à Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, no período de 18 a 22 deste mês.

Os pesquisadores realizam estudos na área de Atenção Primária à Saúde (APS) e integram instituições da rede Nós APS Brasil, da qual participam mais de 20 estudiosos de diversos estados sob coordenação da Profª Anya Pimentel Fernandes Gomes Vieira Meyer. Ela atualmente é pesquisadora visitante na Universidade de Harvard e orientadora de estágio pós-doutoral na Fundação Oswaldo Cruz Ceará (FIOCRUZ-CE) da Profª Regina Glaucia Lucena Aguiar Ferreira, da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem (FFOE), que representará a UFC na visita técnica a Harvard.

Na Universidade de Harvard, a comitiva cumprirá uma agenda de encontros com pesquisadores norte-americanos (Foto: Pixabay)

A Profª Anya Meyer informa que os estudos que integram a pesquisa foram iniciados em 2019 e deram origem a projetos que se entrelaçam com dados coletados em 2021 (quantitativos), 2022 (qualitativos), 2023 (quantitativos) e 2024 (qualitativos e em análise). Neles, os pesquisadores revelam a complexa situação da influência da violência e da covid-19 nos processos de trabalho e saúde mental dos agentes comunitários de saúde (ACS) em oito municípios nordestinos. Desses, quatro são capitais: Fortaleza, Teresina, João Pessoa e Recife; e quatro cidades do interior do Ceará: Sobral, Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha.

Na conclusão, de uma maneira geral, a Profª Anya explica que foi observado que quanto maior a violência urbana, menor a capacidade dos ACS de desenvolver suas atividades dentro das normas do Sistema Único de Saúde (SUS), como visitas domiciliares e ações de promoção da saúde na comunidade, inclusive relacionada à covid-19. Foi destacado também o quanto o quadro aumenta o sofrimento mental desses profissionais.

A pesquisa indica ainda que nas regiões mais vulneráveis, com os maiores indicadores de violência, é onde existe maior cobertura de agentes de saúde, mas esse dado, considerado positivo, acaba sendo prejudicado diante da limitação das atividades dos agentes de saúde por conta da insegurança.

“Os efeitos dessa violência que limita o pleno exercício das atividades dos agentes de saúde têm repercussão, principalmente, na parcela idosa da população dessas comunidades. Eles adoecem mais, têm mais dificuldades em acessar as unidades de saúde, as visitas domiciliares tanto de agentes de saúde como de profissionais de nível superior (médicos, enfermeiros etc.) têm menor frequência e têm menor duração”, cita a professora Anya a partir de um estudo realizado na região do Cariri cearense.

Com relação aos efeitos da covid-19 no trabalho dos agentes de saúde, os estudos demonstram que, além das dificuldades impostas pela própria pandemia, como períodos de lockdown, os agentes enfrentaram ampla exposição ao vírus em razão da própria natureza de suas atividades.

Mais detalhes sobre os resultados podem ser vistos na página da rede Nós APS Brasil no site da FIOCRUZ-CE.

A pesquisa “Effect of covid-19 and violence on the work process and mental health of community agents in Brazil” tem financiamento da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e da Fundação Lemann/Universidade de Harvard.

PARCERIAS – “Temos um grupo grande no Brasil com mais de 20 pesquisadores, destes alguns são da UFC, como as professoras Regina Lucena, Andréa Silvia Walter de Aguiar e Neiva Francinelly Vieira [da FFOE]”, ressalta a Profª Anya. Para ela, a parceria com a UFC e tantas outras instituições é essencial. “São pesquisadores com background diferente, histórias de pesquisa diferentes que somam no pensar e no analisar os dados. Esse trabalho colaborativo permite também irmos mais longe, coletando dados num número maior de locais, e termos vários olhares na hora da análise e disseminação da informação”, considera a coordenadora.

Ela acrescenta que o trabalho em conjunto é essencial para a riqueza do projeto que, em última instância, “visa contribuir com informações que possam ativar ações e políticas públicas que possam favorecer o desenvolvimento pleno das atividades dos agentes comunitários de saúde e, assim, impactar positivamente na saúde da população, que acaba sendo afetada de tantas formas com a questão da violência, inclusive diminuindo a capacidade do nosso SUS de cuidar dessas pessoas”, pondera.

Quanto à participação da FFOE/UFC, a Profª Regina Lucena esclarece que, juntamente com a Profª Andrea Silvia, vem atuando em dois eixos no grande estudo mencionado pela Profª Anya. O Eixo 1 trata da “percepção da violência sofrida pelo Agente Comunitário de Saúde em seu processo de trabalho”; e o Eixo 2 aborda “a resiliência de sistemas de saúde sob a ótica do Agente Comunitário de Saúde”. Já a Profª Neiva Francinelly está envolvida nas pesquisas quanto à análise das informações e na escrita dos artigos científicos que resultarão dos estudos.

“Além desses dois eixos, outros estão sendo trabalhados por outros pesquisadores do grupo NósAPSBrasil”, reforça a Profª Regina Lucena. A coleta de dados dos dois eixos mencionados foi feita em 2023, e as professoras agora estão na fase de análise dos dados. “Neste primeiro semestre de 2024, já devemos estar divulgando os resultados. É um estudo robusto, com muitas informações, que resultará em muitos desdobramentos”, avalia a Profª Regina.

AGENDA DA VISITA – A comitiva de pesquisadores que integram a rede Nós APS Brasil será recepcionada em Harvard pelas professoras Anya Vieira Meyer, Aisha Yousafzai e Márcia Castro. No programa estão previstos encontros com pesquisadores americanos do programa Takemi da School of Public Health T. Chan, e do David Rockfeller Center for Latin American Studies (DRCLAS), entre outros.

O grupo visitante reúne pesquisadores da FIOCRUZ Ceará e FIOCRUZ Pernambuco, UFC, Universidade Estadual do Ceará (UECE), Universidade Regional do Cariri (URCA), Universidade do Vale do Acaraú (UVA) e Secretaria Estadual de Saúde do Ceará (SESA).

Confira a relação dos visitantes a Harvard: Profª Alice Maria Correia Pequeno (SESA), Profª Ana Patrícia Pereira Morais (UECE), Profª Maria de Fátima Antero Sousa Machado (FIOCRUZ-CE e URCA), Profª Maria Socorro de Araújo Dias (UVA), Profª Maristela Inês Osawa Vasconcelos (UVA), Profª Regina Glaucia Lucena Aguiar Ferreira (UFC), Prof. André Luiz Sá de Oliveira e Prof. Sidney Feitoza Farias (ambos da FIOCRUZ-PE).

SAIBA MAIS – A rede Nós APS Brasil é formada por pesquisadores da Atenção Primária à Saúde no Brasil. Foi construída em 2019 a partir do encontro de pesquisadores de duas redes de pesquisa preexistentes: a Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família (RENASF) e a Rede FIOCRUZ Nordeste, entendendo como objetivo em comum o aprofundamento dos conhecimentos na área da atenção primária, mais especificamente dos atores envolvidos na Estratégia de Saúde da Família, através de avaliação dos desafios encontrados e proposição de caminhos para seus enfrentamentos.

Mais informações no site da FIOCRUZ-CE e no canal da rede no YouTube.

Fonte: Profª Anya Pimentel Fernandes Gomes Vieira Meyer, da FIOCRUZ-CE, e pesquisadora visitante na Universidade de Harvard – e-mail: anyavieira10@gmail.com e Profª Regina Glaucia Lucena Aguiar Ferreira – e-mail: reginalucenaa@ufc.br

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