segunda-feira, 22 de julho de 2024

Esquizofrenia, suicídio e bipolaridade: a medicina de precisão na psiquiatria (Artigo)

Foto: Dreamstime

Por: Shrabasti Bhattacharya 

Médicos e pesquisadores há muito trabalham no desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais precisas e

personalizadas a partir da complexidade e especicidades do quadro do paciente. Isso não é diferente com a psiquiatria. Especialistas reunidos no 31º Congresso Europeu de Psiquiatria, na França, discutiram como as pesquisas recentes estão sendo aplicadas para conceber estratégias com base na medicina de precisão para o tratamento de transtornos psiquiátricos.

Psiquiatria de precisão na França

Na França, 18% da população sofre de pelo menos um transtorno mental, disse Pierre Michel Llorca, professor de psiquiatria da Université Clermont Auvergne. Entretanto, a falta de compreensão da fisiopatologia de muitas doenças mentais, a ampla heterogeneidade da apresentação dessas doenças e a falta de biomarcadores diagnósticos tornam um desafio para os médicos prestar um tratamento individualizado para os transtornos de seus pacientes.

Para resolver essa questão, Pierre e colaboradores lançaram, em julho de 2022, o PROPSY (programa-projeto em psiquiatria de precisão), um estudo que visa desenvolver abordagens de medicina de precisão para o diagnóstico e o tratamento de transtorno bipolar, transtorno depressivo maior, esquizofrenia e transtorno do espectro autista.

O estudo incluirá 10.000 adultos com os quatro transtornos psiquiátricos e usará inteligência artificial para descobrir marcadores prognósticos que possam ser usados para identificar subgrupos homogêneos de pacientes. Isso pode ajudar a criar estratégias de tratamento mais personalizadas.

O programa de cinco anos visa revolucionar o tratamento de doenças mentais na França, melhorando o diagnóstico e a estratificação do paciente, prevendo o prognóstico e fornecendo ferramentas educacionais para futuras gerações de pesquisadores e médicos.

Novo modelo de estadiamento da esquizofrenia

Desde 1976, os médicos têm usado a escala de impressão clínica global de gravidade (CGI-S) para o estadiamento de doenças psiquiátricas. Essa escala é dividida em sete estágios, de acordo com o nível de doença mental do paciente no momento da consulta. A escala depende em grande parte da experiência e da capacidade diagnóstica do médico e, portanto, não pode ser considerada um padrão-ouro para o estadiamento da esquizofrenia. Uma revisão sistemática publicada em 2022 concluiu que a esquizofrenia poderia ser estadiada com mais precisão se os modelos de estadiamento clínico incluíssem biomarcadores mais específicos e validados e avaliações de outras áreas da vida afetadas pela doença, como comorbidade da doença e qualidade de vida relacionada à saúde.

Assim, María Paz Garcia-Portilla, professora de psiquiatria da Universidad de Oviedo, na Espanha, e colaboradores usaram o aprendizado de máquina para criar um modelo empírico de estadiamento da esquizofrenia. O modelo usou dados de uma coorte de 212 pacientes diagnosticados com a doença, entre eles características clínicas, gravidade dos sintomas depressivos atuais, habilidades cognitivas e biomarcadores como interleucina-6 e fator de necrose tumoral alfa. Os achados, que ainda não foram publicados, mostraram que o estadiamento pela CGI-S convencional classificou erroneamente 40% dos pacientes em comparação com o novo modelo. María acredita que seu modelo possa ser usado na prática clínica diária para ajudar no diagnóstico e tratamento da esquizofrenia.

Prevenção do suicídio com psiquiatria de precisão

Suicídios podem ser evitados se o risco for identificado em um estágio inicial. No entanto, um estudo de 2023 em uma coorte francesa de pacientes com transtorno bipolar demonstrou que os médicos só estavam cientes da ideação suicida do paciente em 25% dos casos.

Apesar de maior impulsividade, problemas emocionais, distúrbios do sono e abuso infantil estarem entre os muitos fatores de risco de suicídio conhecidos, “esses fatores não são mais precisos na previsão do risco de suicídio do que ‘jogar cara ou coroa’”, explicou Philippe Courtet, professor de psiquiatria da Université de Montpellier, na França.

Nos últimos anos, a constatação de que escores de risco poligênico e variáveis genéticas estão associados a comportamentos suicidas destacou a importância da informação genômica para a identificação precoce do risco de suicídio. Isso pode levar ao desenvolvimento de estratégias de prevenção adaptadas de acordo com as pontuações poligênicas para alguns traços específicos, como transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno do espectro autista, transtorno de estresse pós-traumático e esquizofrenia.

Pesquisas recentes também apontaram para uma associação positiva entre o aumento da resposta inflamatória imunitária e o risco de suicídio. Isso pode significar que certos subgrupos de pacientes com assinaturas imunitárias específicas possam se beneficiar de tratamentos imunomoduladores personalizados.

Philippe disse que não existe mais uma estratégia universal de prevenção do suicídio, e que a medicina de precisão que respeita as características particulares de cada paciente é agora uma necessidade no estudo do suicídio. Estudos prognósticos recentes mostraram que modelos baseados em dados de prontuários eletrônicos podem prever o risco de comportamento suicida em cerca de 40% dos pacientes com especificidade de 90%, e tais modelos melhoram quando avaliações clínicas e autorrelatos de pacientes também são incorporados.

Tratamento personalizado em transtornos bipolares

“Estamos entrando na era da psiquiatria de precisão para transtornos bipolares”, disse Iria Grande, professora associada de psiquiatria da Universidad de Barcelona. Já está sendo aplicada no campo dos transtornos bipolares, principalmente com a ajuda de exames genéticos, farmacogenômica e modelos de previsão clínica.

Por exemplo, em 2022, pesquisadores usaram uma combinação de escores de risco poligênico e variáveis clínicas para prever a resposta ao lítio em pacientes com transtorno bipolar.

Da mesma forma, com a ajuda de neuroimagem, pesquisadores constataram que as associações entre maior índice de massa corporal e menor espessura cortical no manto cerebral também foram associadas ao transtorno bipolar.

Além disso, alguns estudos estão avaliando mudanças na atividade eletrodérmica para procurar associações com as trajetórias de melhora de pacientes com transtorno bipolar internados no hospital.

Iria concluiu que, embora os médicos precisem estar atualizados sobre os avanços no uso de biomarcadores e neuroimagem para uso em psiquiatria de precisão, ainda é importante que eles confiem em sua experiência clínica e continuem a ser sensíveis e empáticos com seus pacientes.

Este conteúdo foi originalmente publicado na Univadis ─ Medscape Professional Network

Fonte: Medscape Notícias Médicas 

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