O debate em torno dos cuidados paliativos ganhou maior projeção após o ex-jogador Pelé, de 82 anos, não responder ao tratamento quimioterápico. No início deste ano, o “rei do futebol” foi diagnosticado com metástases no intestino, no fígado e no pulmão. Mas, afinal, o que são os cuidados paliativos?
A assistência multidisciplinar busca melhorar a qualidade de vida e minimizar o sofrimento de pessoas com doenças graves. Apesar de figurar no imaginário popular como um tratamento para quem está em fase terminal, o cuidado paliativo vai muito além, atuando na promoção da sobrevida com foco no conforto e na dignidade do paciente.
A médica Halane Lima, coordenadora do serviço de Cuidados Paliativos do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), equipamento da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), tira dúvidas sobre o assunto na entrevista abaixo.
Referência no atendimento a pacientes paliativos no Estado, a unidade gerida pela Fundação Regional de Saúde do Ceará (Funsaúde) atende uma média mensal de 115 pacientes em enfermarias e 20 pessoas no ambulatório próprio.
Confira a entrevista na íntegra:
Como podemos definir cuidados paliativos?
Halane Lima: O termo paliar deriva do latim pallium, uma espécie de manto de proteção utilizado por cavaleiros para se proteger da tempestade. Dessa forma, paliar significa proteger o indivíduo de sofrimentos evitáveis. Já os cuidados paliativos consistem em promover a assistência por uma equipe multidisciplinar com a finalidade de melhorar e preservar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares, minimizando o sofrimento diante de uma doença grave que ameace a vida.
Quando um paciente entra em tratamento de cuidados paliativos quer dizer que não há mais solução para o caso?
H.L.: Observamos que, apesar de todos os esforços no intuito de difundir o tema, é comum observarmos a persistência desse pensamento inverídico de que cuidados paliativos é quando o paciente não responde às terapias, significando proximidade da morte. Na verdade, a abordagem paliativa é indicada desde o diagnóstico de patologias graves que ameacem a vida. Estudos mostram que, pelo contrário, pessoas com doenças graves e avançadas submetidas a cuidados paliativos tendem a ter maior sobrevida, e com qualidade.
Quais patologias possuem indicação para cuidados paliativos? É apenas para pacientes com doença oncológica avançada?
H.L.: Existe também esse pensamento errôneo de que cuidados paliativos são indicados apenas para doenças oncológicas graves. O câncer é, sim, uma das principais doenças a demandar abordagem paliativa, mas não apenas esse grupo. Outras patologias frequentes são doenças cardiovasculares, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), aids e algumas de origem genética, degenerativas e progressivas, independentemente da idade.
Como funciona um tratamento de cuidados paliativos?
H.L.: O tratamento paliativo engloba uma abordagem multidisciplinar ampla, tanto na esfera física, com o cuidado da doença em si, como nas esferas psicológica, espiritual e social, por entender que cada indivíduo é único e que o sofrimento é experienciado também de forma única.
A biografia desse paciente, seus desejos, valores e planos futuros devem ser acolhidos e levados em consideração no planejamento terapêutico. A assistência tem o foco na pessoa e não na doença, pois não se pode cuidar bem de alguém que você não conhece bem como pessoa
Os cuidados paliativos podem ser integrados em qualquer momento do tratamento, o mais precocemente possível, junto à equipe assistente. A terapia atua no alívio de sintomas desconfortáveis, como a dor, e na comunicação eficaz entre paciente, profissionais de saúde, familiares e cuidadores, facilitando o processo de tomada de decisões.
Conforme a patologia em questão progride e tratamentos específicos passam a não trazer o resultado esperado ou causam danos superiores aos benefícios, a conduta paliativa vai se tornando mais ampla e prioritária, objetivando a qualidade de vida, o conforto, e promovendo a dignidade.
Também é importante ressaltar que essa abordagem não existe apenas em ambiente hospitalar, pois, a depender das condições clínicas do paciente, ele pode ser atendido em ambulatório ou por meio de acompanhamento domiciliar.
Qual a importância da equipe multiprofissional na atuação em cuidados paliativos?
H.L.: A equipe multiprofissional é importante justamente no entendimento das necessidades dos pacientes em todas as esferas (física, psicológica, espiritual e social). Quando em conjunto, os profissionais conseguem oferecer mais conforto para quem está em assistência ao elaborar um plano terapêutico melhor e mais completo.
Esse grupo promove estratégias pautadas em planejamento, organização e divisão de tarefas. Um serviço especializado em cuidados paliativos pode contar com diversas categorias de profissionais da Saúde – médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, terapêutas ocupacionais, farmacêuticos e odontólogos.
A equipe também pode ser composta por um capelão, responsável pela assistência espiritual do paciente, e este pode não ser profissional de saúde, contanto que tenha formação em capelania.
HGF é referência em tratamento paliativo
O serviço de Cuidados Paliativos do HGF foi criado em 2014, inicialmente atendendo apenas internados na unidade. Em 2020, foi criado o ambulatório de Cuidados Paliativos, onde são assistidos pacientes encaminhados de outras especialidades e até quem recebeu alta após acompanhamento durante a hospitalização. A equipe possui sete médicas, duas psicólogas, duas assistentes sociais, uma fisioterapeuta e uma fonoaudióloga.
Fonte: https://www.saude.ce.gov.br/
*******
*DO BLOG ENCONTRO COM A SAÚDE - A Drª. Halane Maria Rocha Pinto Lima é egressa da 13ª turma do Curso de Medicina de Sobral da UFC, graduada em 2016.
Cerimônia da Noite de Hipócrates da 13ª turma do Curso de Medicina de Sobral da UFC Veja mais: https://encontrocomsaude.blogspot.com/2016/12/discurso-proferido-pelo-professor.html |
Nenhum comentário:
Postar um comentário