Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp),
em Botucatu (SP), identificaram seis espécies de bactérias com potencial para
serem usadas como biolarvicidas [agente natural que destrói larvas] no combate
ao mosquito Aedes aegypti, vetor de doenças como dengue, Zika, febre amarela e
chikungunya.
Dados preliminares da pesquisa, apoiada pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), mostraram que as espécies
bacterianas podem matar até 90% das larvas. “Isolamos cerca de 30 diferentes
bactérias encontradas no intestino de mosquitos coletados em Botucatu e as
colocamos, uma a uma, em contato com as larvas desses insetos. Observamos em
seis espécies bacterianas a capacidade de matar entre 60% e 90% das larvas,
dependendo do isolado, em até 48 horas”, explicou o coordenador do Laboratório
de Genômica Funcional & Microbiologia de Vetores (Vectomics) do Instituto
de Biotecnologia (IBTEC), Jayme Souza-Neto.
Segundo o pesquisador, serão necessários novos estudos
para caracterizar melhor o potencial larvicida dos microrganismos; avaliar as
concentrações necessárias para que a ação ocorra; o período mínimo de exposição
e o tempo que as bactérias permanecem ativas, entre outros fatores.
“O estudo ainda está em fase inicial. No futuro, também
pretendemos isolar alguns produtos liberados por essas bactérias no meio para
entender como ocorre a ação larvicida”, disse Jayme Souza-Neto, também
professor da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp.
Trabalhos anteriores do grupo de pesquisadores liderado
por Souza-Neto haviam mostrado que o Aedes encontrado em Botucatu é menos
suscetível à infecção pelo vírus da dengue do que insetos oriundos das cidades
de Neópolis (SE) e Campo Grande (MS), locais onde a incidência da doença é
maior.
Após alimentar os mosquitos em laboratório com sangue
contaminado com o sorotipo 4 do vírus, o grupo observou que apenas 30% dos
insetos coletados no interior paulista se contaminavam, enquanto o índice
ficava entre 70% e 80% nas populações das outras duas cidades.
Por meio de técnicas de sequenciamento de genes em larga
escala, o grupo identificou as espécies bacterianas que colonizavam o intestino
dos insetos e observou que o microbioma presente nos grupos mais e menos
suscetíveis era completamente diferente.
“Começamos então a investigar o potencial dessa microbiota
intestinal de atuar como biolarvicida e também como antiviral. Nesse segundo
tipo de ensaio, colocamos as bactérias ou os produtos por elas liberados em
contato com o vírus da dengue e observamos se o patógeno perde a capacidade de
infectar células”, explicou o pesquisador.
Segundo Souza-Neto, o mesmo tipo de ensaio será feito com
o vírus Zika em breve. “Se conseguirmos identificar uma bactéria capaz de
neutralizar esses patógenos, ela será uma potencial fonte para novos fármacos”,
disse.
Agência Brasil
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