Grande parte das coisas corriqueiras de um dia normal de
uma pessoa são esquecidas. Por outro lado, alguns eventos e situações ficam na
memória e são facilmente lembradas por muito tempo. Uma questão sempre
levantada pelos pesquisadores desta área do conhecimento é: - O que diferencia
as situações em que eventos são lembrados das situações que são esquecidos?
De uma maneira geral as pessoas lembram e aprendem com mais
facilidade assuntos que interessam a elas, o que sugere que a motivação e a
curiosidade - que é uma forma de motivação - são aspectos importantes no
aprendizado e formação da memória. Esta constatação empírica é, no entanto,
pouco entendida quanto aos seus mecanismos.
Este entendimento ficou mais próximo a partir dos
resultados de uma pesquisa publicada recentemente na revista científica Neuron.
Em uma primeira fase do experimento um grupo de um total de 28 pessoas foi
apresentado à diversas perguntas triviais em que o participante quantificava
qual a probabilidade dele saber a resposta e o seu grau de curiosidade de saber
a resposta.
Na segunda fase do experimento, as perguntas que os
participantes tiveram baixa probabilidade de saber a resposta foram classificadas
como de alta curiosidade ou baixa curiosidade e aplicada enquanto o
participante se submetia a um exame de imagem dinâmico, chamado de ressonância
magnética funcional, que indica quais regiões do cérebro são ativadas em
determinada situação.
Entre as questões eram mostradas figuras neutras de
pessoas.
Os pesquisadores investigaram quais regiões cerebrais
eram recrutadas enquanto o individuo respondia às questões, relacionando as
regiões com o grau de curiosidade. A fase final consistiu-se de um teste
surpresa de memória em que eram apresentadas novamente as mesmas perguntas e as
figuras das faces.
Os resultados revelaram que os participantes lembraram
mais das perguntas que eles tinham maior curiosidade e, além disso, lembraram
mais das figuras incidentais que estavam associadas às perguntas de maior
curiosidade.
Por sua vez, a análise de imagem mostrou que as perguntas
de maior curiosidade ativaram uma região do cérebro que funciona como sistema
de recompensa - chamada de núcleo acumbens - e uma região, chamada de
hipocampo, que é a responsável pela formação de novas memórias. Além disso,
mostrou uma forte interação funcional entre estas duas regiões.
Apesar de ser um trabalho com uma abordagem metodológica
relativamente complexa, o conjunto de seus resultados é bastante claro e
confirma a hipótese motivacional do aprendizado. E vai mais além, ao demonstrar
que o mecanismo está relacionado com a ativação de um circuito cerebral de
recompensa na situação de curiosidade e que, interagindo com o centro formador
de memórias, coloca o cérebro em uma condição fisiológica mais propícia para
aprender e reter novas informações, sejam elas a origem da curiosidade ou
simplesmente estejam temporalmente associadas a um estado de curiosidade.
Despertar a curiosidade de quem está aprendendo pode
facilitar o aprendizado não só daquela curiosidade, mas também de todas as
informações, raciocínios, práticas e habilidades que estão associados a ela.
Isto pode servir de estratégia formal para professores,
instrutores, tutores e mestres em geral, no processo ensino-aprendizado, como
também para aqueles que, com mais idade, queiram manter a memória em dia.
Autor: Dr. Gilberto Sanvitto - ABC da Saúde
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