quarta-feira, 31 de maio de 2017

‘Névoa mental’ do câncer de mama é resultado de estresse pós-traumático

RIO - O “nevoeiro mental” frequentemente experimentado por pacientes de câncer de mama após a quimioterapia pode ser devido mais ao estresse pós-traumático do que em razão dos medicamentos usados contra o câncer, sugere um novo estudo publicado recentemente no “ Journal of the National Cancer Institute”.

- Pacientes que se queixam de problemas cognitivos podem na verdade estarem sofrendo com estresse pós-traumático ou outras consequências psicológicas substanciais advindas do fato de terem câncer, que pode ser tratado - afirmou Kerstin Hermelink, médica do do Hospital Universitário CCCLMU de Munique, Alemanha, à agência Reuters Health. - Os médicos devem, portanto, ouvir atentamente seus pacientes que se queixam de deficiências cognitivas e tentar compreender a sua situação individual para descobrir o que este paciente precisa - acrescentou.


Os efeitos da quimioterapia no cérebro foram inicialmente responsabilizados pela “névoa mental” às vezes experimentada por mulheres com câncer de mama, mas sintomas semelhantes foram relatados por pacientes com câncer de mama que ainda não haviam começado a sua quimioterapia e até mesmo por aquelas cujo tratamento não incluía quimioterapia, observaram Hermelink e colegas no estudo.

Para investigar o porquê disso, os pesquisadores estudaram 150 mulheres que acabavam de ser diagnosticadas com câncer de mama, assim como 56 mulheres sem problemas de saúde. Em vários momentos ao longo do ano seguinte, as mulheres completaram exames neuropsicológicos, bem como avaliações para o transtorno de estresse pós-traumático (PTSD, na sigla em inglês). Elas também forneceram suas próprias avaliações sobre sua função cognitiva.

Cerca de sete meses após o início do estudo (e cerca de dois meses após a conclusão da quimioterapia para as mulheres que a receberam), não houve diferenças no desempenho cognitivo ou mudanças cognitivas entre as mulheres que receberam quimioterapia, mulheres cujo câncer de mama não foi tratado com quimioterapia e as mulheres saudáveis ​​sem câncer de mama. No final de um ano, no entanto, houve um pequeno declínio cognitivo nas pacientes de câncer de mama na comparação com as mulheres saudáveis, mas o declínio não dependeu se elas haviam sido submetidas ou não ao tratamento de quimioterapia. Em vez disso, esta perda estava ligada aos sintomas do PTSD.

Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos definem o PTSD como “"uma intensa resposta física e emocional aos pensamentos e lembranças do evento que dura por muitas semanas ou meses após o evento traumático”. Os sintomas são variados e incluem - mas não estão limitados a - flashbacks, pesadelos, dificuldade para dormir, estar excessivamente alerta ou facilmente assustado, e ter problemas para se concentrar.

- Eu, pessoalmente, fiquei surpreso com a pouca mudança cognitiva que observamos - disse Hermelink. - Todas as diferenças entre os dois grupos de pacientes e o grupo de controle foram mínimas, mesmo que usássemos uma bateria de teste grande e nosso estudo foi comparativamente bem alimentado, com uma grande amostra.

Diante disso, ela acrescenta:

- Os médicos devem dizer aos seus pacientes que a deficiência cognitiva muito sutil não só é observada após a quimioterapia, mas também em pacientes tratadas sem quimioterapia, e mesmo em pacientes que ainda não iniciaram qualquer tratamento para o câncer da mama. O cérebro não é uma máquina que oferece sempre o mesmo nível de desempenho, desde que não esteja quebrado, mas sua função e, a longo prazo, também sua estrutura, são afetadas por nossas ações e experiências. O diagnóstico de uma doença com risco de vida como o câncer de mama vem como um choque para a maioria das pacientes, o que pode deixar vestígios no cérebro, mesmo que elas lidem muito bem com isso.

Por fim, Hermelink considera:


- A investigação sobre o prejuízo cognitivo associado ao câncer está cheia de armadilhas metodológicas que podem distorcer substancialmente os resultados. É quase impossível para as pessoas que não trabalham no campo avaliarem a qualidade metodológica de um estudo e, assim, descobrirem se os resultados são ou não válidos. Estudos com achados espetaculares são relativamente fáceis de publicar, mesmo que sejam pequenos e seus métodos questionáveis, e é claro que todos os pesquisadores precisam publicar. Os jornalistas e o público devem, portanto, ficarem particularmente cautelosos com pequenos estudos que apontam grandes e inequívocos efeitos.

Fonte: O Extra

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