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A ordem executiva de 27 de janeiro do presidente norte-americano Donald Trump, que baniu a entrada de cidadãos de sete países – Irã, Iraque, Síria, Iêmen, Somália, Líbia e Sudão – foi apenas o início de uma série de mudanças na política de concessão de vistos de entrada naquele país, e que podem ter impacto também para os brasileiros. Projetos em estudo na Casa Branca propõem mudanças inclusive nos vistos B1 e B2, muito usados por médicos que vão a congressos e conferências, na concessão de vistos F-1 para estudantes e, principalmente nos H-1B, para trabalhadores não-imigrantes em funções especializadas.
No caso dos brasileiros, as empresas que trabalham na intermediação para obtenção de vistos vêm percebendo desde o ano passado, portanto ainda na administração de Barack Obama, um aumento considerável na rejeição aos pedidos de visto, tanto para turistas quanto para estudantes de intercâmbio. Dados do governo americano mostram que o número de vistos de turistas negados a brasileiros no ano fiscal de 2016 subiu para pouco mais de 15%, um aumento de três vezes em relação a 2015 (5,36%), e cinco vezes mais em relação a 2014 (3,2%).[1]
Mas a situação pode ser até pior. O índice de vistos negados parece ter saltado para algo em torno dos 35% a 40% no final do ano passado, segundo estima Daniel Magalhães, diretor da Globalvisa, empresa especializada em assessorar brasileiros com vistos e processos imigratórios.
"O motivo é basicamente econômico. Até o ano passado, os brasileiros eram bem-vindos nos Estados Unidos porque iam para fazer turismo, compras, cursos de inglês. Mas, com o agravamento da crise econômica, mais brasileiros entraram nos Estados Unidos com vistos de turista e de estudante e permanecem lá ilegalmente, o que disparou o alerta no Departamento de Estado dos EUA. Por conta disso, os consulados estão negando vistos para pessoas que até o ano passado conseguiriam obtê-los sem maiores problemas", explica.
A ordem executiva de Trump, por enquanto suspensa por medida judicial, não só afetou a vida de milhares de pessoas portadoras de vistos e green cards (residentes permanentes), como abalou a comunidade da área de saúde dos Estados Unidos. Segundo a The Medicus Firm, empresa especializada em recrutamento de médicos, 15.000 médicos que atuam hoje nos EUA são naturais daqueles sete países[2], entre os quais estão 9.000 iranianos, 3.500 sírios e 1.500 iraquianos. Os serviços médicos americanos têm enorme dependência de mão-de-obra estrangeira, notadamente para médicos de família, medicina interna, pediatras, e cirurgiões gerais, áreas com remuneração mais baixa, e por isso que não atraem os médicos nascidos nos Estados Unidos. São eles também que aceitam trabalhar em áreas rurais e cidades de pequeno e médio porte, com populações entre 25 mil e 500 mil pessoas.
De acordo com Andrea Clement, porta-voz da Medicus, é nesses locais que atuam 76% dos médicos estrangeiros em atividade nos Estados Unidos. Boa parte também trabalha em hospitais que atendem pacientes do Medicare e Medicaid (os planos de saúde pagos pelo governo americano a idosos e pessoas abaixo da linha da pobreza), além de hospitais de veteranos de guerra.
De acordo com reportagem publicada pelo jornal The New York Times[2], a oferta de vagas para residência médica é 22% maior do que podem ocupar os médicos formados no Estados Unidos, e são preenchidas principalmente por profissionais graduados na Índia, no Paquistão, na China, nas Filipinas, no Irã e em Israel. Esses profissionais entram nos EUA com o visto J-1, o mesmo exigido de mestrandos e doutorandos que recebem salário ou bolsas de estudo de instituições americanas, trabalham em instituições de primeira-linha e devem regressar a seus países de origem no prazo de três anos. Na prática, os médicos conseguem prolongar sua permanência por anos, trabalhando em regiões que o Departamento de Saúde considera deficitárias em termos de atendimento, ou seja, onde há menos de um médico para cada três mil pessoas. Depois de cinco anos, esses profissionais podem solicitar o green card e clinicar em qualquer parte do país. A mesma situação se repete com outros profissionais da saúde, como fisioterapeutas, dentistas e farmacêuticos.
Ruth Helena Belinghini
Medscape
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