Cerca de 60 pessoas participaram na noite de sexta-feira
(20) de um ‘Aulão de Zumba Solidária’ em benefício da adolescente Karem
Rafaela,17 anos, que entrou em coma irreversível depois de ser submetida a uma
cesariana em uma maternidade pública de Teresina.
O estado de saúde da adolescente comoveu as instrutoras
de Zumba Jucyara Silva e Tatyana Pedreira e os professores de ritmos Mayra
Viana e Kleber Bernardo que se dispuseram a ministrar aulas de danças para quem
trouxesse fraldas tamanho XG, pomadas de assaduras, lenços umedecidos, protetor
de colchão e óleo de girassol. O material arrecadado foi entregue a jovem neste
sábado (21).
“Vimos o drama da família e decidimos ajudar. Eu ministro
aulas de zumba três vezes por semana em uma escola da rede pública e decide que
iria fazer uma campanha para ajudar a Karen. Pedi minhas alunas e conhecidos
que levassem o material que adolescente usa diariamente ao invés de pagar o
valor que cobramos pela aula”, comentou Jucyara Silva, uma das professoras.
A família da adolescente pedem indenização pelos danos
causados à jovem. O caso também está sendo investigado pela Polícia Civil e
Conselho Regional de Medicina do Piauí (CRM-PI). Sem dinheiro para continuar
com o tratamento, familiares e amigos estão fazendo uma campanha para conseguir
recursos e montar uma mini Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em casa. A irmã
Ângela Silva acusa o hospital de negligência médica.
Complicações pós-parto
Segundo a família, Karem Rafaela deu entrada no Hospital
do Buenos Aires, Zona Norte da capital, no dia 9 de setembro do ano passado
quando começou a sentir dores e a previsão inicial do médico, que fez o
pré-natal, era de que o parto fosse normal. No entanto, após dois dias
internada, a jovem, que na época tinha 16 anos, não apresentou dilatação e a
equipe médica decidiu por realizar uma cesárea. O bebê, do sexo masculino,
nasceu bem e atualmente está com quatro meses.
"Ao retornar da cirurgia, minha irmã ficou se
queixando de fortes dores abdominais e fraqueza. Ela ainda conseguia falar e se
movimentar. De 9h até 21h, disseram que os sintomas eram normais e somente na
troca de plantão no turno da noite, a médica percebeu a gravidade e encaminhou
ela à Maternidade Evangelina Rosa", relatou Ângela Silva.
Para Cintia Andrade, advogada da família, o período
pós-cesárea sem atendimento médico foi decisivo para a deterioração do estado
de saúde de Karen.“Os vários laudos que coletamos apontam que provavelmente uma
artéria foi cortada durante a cirurgia. Após isso, Karen ficou 12 horas
esperando por uma avaliação médica. Nesse meio tempo, apenas enfermeiros a
acompanharam. Por volta das 21h, uma enfermeira acionou uma médica, que
percebeu que a jovem estava em choque hipovolêmico (grande perda de sangue).
Essa foi a maior negligência”, afirmou.
Há uma semana, Karem Rafaela teve alta médica e pôde
retornar para casa, mas a família alega não ter local apropriado para cuidar da
jovem, que se alimenta por sonda e depende de equipamentos médicos para
sobreviver. A irmã e a mãe se revesam para acompanhar Karem no hospital e ainda
cuidar do pequeno Kauan Rafael.
"Já realizamos bingos, rifas, tudo para ajudar no
tratamento da Karem. Entramos com processo contra o hospital do Buenos Aires
porque acreditamos que houve negligência médica. Ainda sem resultado, iniciamos
a campanha nas redes sociais porque precisamos montar uma mini UTI no quarto
dela, mas precisamos também de fraldas, óleo de girassol, protetor de colchão,
pomadas para assaduras e lençóis", relatou Ângela.
Materinadades se posicionam
Em nota, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) disse que
segundo a diretoria do Hospital Buenos Aires, a paciente Karem Rafaela deu
entrada no hospital para tratamento de uma infecção preexistente. No terceiro
dia de internação, ela entrou em trabalho de parto que evoluiu para a indicação
de cesariana.
"O procedimento foi feito normalmente com a paciente
encaminhada para a enfermaria e depois transferida com consciência para a
maternidade Evangelina Rosa, referência para gravidez de risco em
Teresina", diz trecho da nota. A
FMS disse que o caso está sendo investigado para detectar as causas da
complicação.
Ainda de acordo com a irmã de Karem, na Maternidade Dona
Evangelina Rosa a jovem passou por uma segunda cirurgia por conta de uma
hemorragia no abdômen, teve uma parada cardíaca de 30 minutos e ficou em coma
induzido. A adolescente passou 15 dias na maternidade e depois transferida para
o Hospital Getúlio Vargas (HGV).
O G1 procurou a direção da Evangelina Rosa que informou
ter aberto sindicância sobre o caso. Segundo a maternidade, a comissão de ética
médica está concluindo relatório para ser entregue aos órgãos jurídicos que
solicitaram.
"No HGV ela passou por uma terceira cirurgia, agora
por conta de um edema cerebral. Depois disso ela, entrou em coma vigil ou
estado vegetativo. Ela não responde, faz movimentos aleatórios e, segundo os
médicos, a situação dela é irreversível. Nós queríamos que a Karem voltasse
para casa bem tendo noção das coisas", contou a irmã.
Fonte: G1
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