Entrevista com Dr Rafael Arruda, médico urologista, sobre procedimentos inovadores realizados em Sobral

O Blog Encontro Com a Saúde (BECS) entrevista Dr. Rafael Arruda, médico urologista, integrante do GUS (Grupo Urológico de Sobral), falando sobre os procedimentos inovadores que estão sendo realizados em Sobral.

BECS - Como está a Urologia de Sobral atualmente?

RA - "A Urologia sobralense vem desenvolvendo um excelente trabalho há vários anos, pois é um serviço que existe há muito tempo na cidade e de ótima referência. Porém, há  sempre o aparecimento de novas tecnologias e a atualização deve ser constante. Percebendo essa necessidade, estamos trabalhando para desenvolver algumas áreas da especialidade que estão se difundindo, tanto no mundo, como no Brasil, que é principalmente a laparoscopia. Isto, era algo que em Sobral deixava a desejar, porque tanto na Urologia, como em outras especialidades, a laparoscopia ainda tem muito a evoluir em nosso meio. Com a ajuda dos colegas urologistas, que formam o Grupo Urológico de Sobral (GUS), estamos incentivando esse movimento que é introduzir  a cirurgia laparoscópica em nossa prática diária"

BECS – O que esta técnica traz de novidade, ou benefícios, para os procedimentos cirúrgicos?

RA – “A laparoscopia é uma técnica inovadora, minimamente invasiva e segura. Consiste, basicamente,  em fazer a operação  simulando a via aberta, que é a via tradicional em que se faz uma incisão grande. A diferença é  que com essa nova técnica  usamos apenas punções mínimas, e trabalhamos sem grandes cortes. Com isso, o paciente tem uma melhor recuperação no pós-operatório, apresentando menor trauma cirúrgico, recuperação mais rápida, com alta hospitalar precoce, menor intensidade da dor e retorno mais rápido às atividades diárias. Com esta técnica as perdas sanguíneas são menores, há uma menor quantidade de transfusões. Ainda tem a questão estética na qual o paciente fica com incisões pequenas, apenas punções. Quando ocorre a necessidade de uma incisão maior são "escondidas",ou seja, em áreas não expostas e isto é um grande ganho, não apenas para as mulheres que são mais criteriosas com as cicatrizes, mas também para os homens que hoje também estão preocupados com a estética cirúrgica. Enfim, é uma abordagem cirúrgica que traz menos complicações e grandes resultados"

BECS – E para que tipo de procedimentos está sendo usada esta técnica?

RA – “Em doenças urológicas  benignas e malignas. No caso das doenças oncológicas, o principal procedimento diz respeito à prostectomia radical, que é a retirada da próstata nos casos de câncer. Para quem faz a laparascopia esta cirurgia é a de maior porte e mais complexa. Este procedimento inclui uma fase extirpativa, que é a extração  da próstata, e uma parte reconstrutiva, onde é feita uma anastomose, ou seja, uma junção da bexiga com a uretra para que o paciente volte a urinar normalmente. São dois momentos bem complexos, principalmente a fase reconstrutiva. Esse procedimento já está sendo feito rotineiramente aqui em Sobral. Outro procedimento consagrado na urologia é a nefrectomia, que é  retirada do rim por conta de um tumor maligno ou doença  benigna. Começamos com a nefrectomia radical, que é a retirada de todo o rim. Hoje, já evoluímos para as nefrectomias parciais, em que extraímos apenas a região doente, preservando o restante do rim. Isso traz uma menor mortalidade, maior expectativa de vida e menor risco de aparecimento de outras enfermidades, como hipertensão e infarto agudo do coração"

BECS –  Existem outros procedimentos que podem ser realizados por laparoscopia?

RA - "Atuamos em outras doenças benignas. Por exemplo, temos feito procedimentos em algumas doenças ginecológicas, como um caso de fístula vesico-vaginal com correção por vídeo-laparoscopia. A aplicação da laparoscopia dentro da urologia feminina é  outra área que pretendemos desenvolver cada vez mais na nossa região.  Outra aplicabilidade da técnica laparoscópica é no próprio tratamento de cálculos urinários. Hoje, o padrão é a endoscopia, mas em muitos casos não existe a disponibilidade do material pelo sistema público ou a própria endoscopia não resolve o caso, aí entra a laparoscopia"

BECS – E quais os resultados alcançados com este procedimento aqui em Sobral?

RA -  "Estamos conseguindo excelentes resultados, tanto em casos que envolvem cirurgias de médio e de grande porte". 

Equipe médica realiza procedimento de Prostatectomia na Santa Casa de Misericórdia de Sobral

BECS- O que há de mais novo na cirurgia laparoscópica no mundo atualmente?

RA - "A cirurgia laparoscópica ganhou um grande impulso com a robótica. Existem, hoje, cirurgias realizadas por robôs e que já é uma realidade no Brasil. A cirurgia robótica nada mais é do que a laparoscopia com o auxilio de um robô. É a mesma técnica realizada aqui, só que em vez de braços humanos controlando pinças cirúrgicas, temos braços robóticos. Com isso a amplitude e a delicadeza do movimento é melhor.  Porém,  acaba que ao final da cirurgia o ganho é bem semelhante ao da laparoscopia convencional"

BECS – Então podemos dizer que Sobral está na vanguarda do procedimento laparoscópico?

RA – "Sim. Nós estamos trazendo para Sobral o que há de mais moderno no tratamento das doenças do trato urinário. Além da laparoscopia, outra novidade, seria o uso da energia LASER para tratamento de cálculos urinários. Este procedimento é uma cirurgia endoscópica para cálculos renais, que nós trouxemos desde o ano passado com a ajuda dos colegas da GUS, que trata cálculos renais sem nenhum corte. Antigamente, a cirurgia era feita com um grande corte na região  lombar, cerca de 10 cm, o rim era aberto ao meio, tirava-se as pedras e o tecido renal era reconstruido através de pontos cirúrgicos. Hoje, o método evoluiu muito e passou para uma técnica pouco invasiva, que é a cirurgia percutânea, em que é feito punções na região  lombar para extrair as pedras. E essa técnica evoluiu mais ainda e hoje nós conseguimos o mesmo resultado, sem corte algum, através de uma técnica endoscópica (ureterorrenolitotripsia flexível) com uso de uma fibra ótica que emite um feixe de LASER (Holmium LASER)"

Equipamentos modernos são utilizados nos procedimentos realizados pelo médicos urologistas de Sobral

BECS – Embora exista todo esse avanço quais as dificuldades destes procedimentos?

RA - "Os aparelhos que nós disponibilizamos aqui, em Sobral, são todos rígidos, então não conseguimos atingir todas as áreas do rim e para cálculos renais os aparelhos que dispomos, realmente, não são eficazes para a cirurgia à LASER. Por isso, fizemos uma parceria com uma empresa de Fortaleza e conseguimos trazer esse aparelho mais moderno, em regime de aluguel. A empresa traz o endoscópio flexível para cá, e conseguimos navegar por todas as áreas do trato urinário . Faz parte desse aparato tecnológico um gerador de laser. Assim, através deste aparelho de fibra óptica, conseguimos bombardear as pedras e fragmentar os cálculos dos mais diferentes  lugares do rim" 

BECS – Então qual a desvantagem do procedimento com a técnica percutânea?

RA – "A desvantagem da percutânea é ela sangra mais, pois são feito incisões. Além disso, o período de internação para a recuperação do paciente é o dobro. Ele tem que ficar, pelo menos, dois dias. No caso da flexível, com laser, o paciente fica 24 horas e não há sangramentos, ou são mínimos, não havendo a necessidade de drenos, apenas, o cateter duplo J, que é um dreno interno. Não há necessidades de drenos externos como na percutânea e o índice de resolução é mais de 90%. Sem sombra de dúvidas, foi um ganho tecnológico importante para a Urologia de Sobral, pois é também o que existe de mais moderno para tratamento de cálculos renais menores que 2 cm no mundo"

BECS – A Ressecção do Transuretral da Próstata (RTU) ainda é realizada da forma tradicional ou pode ser feita com estas novas técnicas?

RA - "Hoje a RTU nós utilizamos técnicas para os procedimentos benignos. Geralmente, na próstata, seria um procedimento para pacientes que estão com dificuldade de urinar, por obstrução urinária . Então, abrimos um túnel através de uma ressecção da parte prostática, que está obstruindo o canal da urina. Então, hoje, a RTU, que um procedimento que tem mais de 50 anos, ainda está em vigor por ser uma abordagem realmente muito efetivo e de um custo relativamente baixo. Também tem a questão dos equipamentos, que são muito disponíveis, e o custo desses equipamentos não é alto. Então, a RTU até hoje ainda é um procedimento “gold standart” (padrão ouro). Esta é a cirurgia que é oferecida primeiro, não só aqui no Brasil, mas no mundo todo. Porém, já existem várias tecnologias surgindo para competir com a RTU, mas esta técnica continua imbatível  por conta do custo benefício"

Médicos que compõem o Grupo de Urologia de Sobral

BECS – Voltando ao GUS, além da Santa Casa de Misericórdia de Sobral, qual o campo de ação cirúrgica do grupo?

RA -  "Hoje, o Grupo de Urologia de Sobral (GUS), com a adesão praticamente total dos especialistas da cidade, é formado por sete urologistas: sou eu, Dr. Rafael Arruda, Dr. Bruno Mapurunga, Dr. Leonardo Aragão, Dr. Irismar Azevedo, Dr. Luis Antonio Solon, Dr. Severino Queiroz e Dr. João Pompeu. Juntos nós formamos o grupo urológico sobralense e atuamos tanto na parte ambulatorial, como cirúrgica. Estamos desenvolvendo as nossas atividades na Santa Casa de Sobral, que é onde atuamos mais, por ser um dos maiores hospitais da região e a referência em Urologia. Mas temos atuação também no hospital da UNIMED.  Na parte ambulatorial, cada um dos urologista atua tanto na rede pública como na iniciativa privada, tanto em Sobral, como em toda região Norte do Estado"

Entrevista ao jornalista  Vanderley Moreira (JP 1641-CE)