Não é incomum a situação em que pessoas tidas como
tranquilas e gentis podem ficar subitamente agressivas e violentas quando
alguém com quem elas tenham uma grande ligação afetiva (empatia) esteja sob
algum tipo de ameaça. Este comportamento, que já é bem demonstrado em diversas
espécies animais, tem ainda pouco entendimento em seres humanos.
Lançando uma luz sobre esta questão, foi publicada
recentemente uma pesquisa na revista científica Personality and Social
Psychology Bulletin. A pesquisa examina alguns fatores biológicos que podem
explicar como uma ameaça grave a alguém que sejamos próximos pode desencadear
um comportamento agressivo, remetendo a pessoa a um estado primitivo.
No trabalho científico é relatado um caso típico, ocorrido
nos Estados Unidos em 2012, em que um pai que não era agressivo, ouvindo o
choro de sua filha de 5 anos, percebeu que ela estava sofrendo um ataque sexual
por um homem. Em poucos segundos o pai matou o agressor a pancadas.
Imediatamente ele se deu conta da sua reação extrema e ligou chorando para o
serviço de emergência, tentando salvar a vida do agressor da filha de todas as
maneiras. Posteriormente o pai foi julgado e considerado inocente pois foi
levado em conta pelos promotores que ele não queria matar o agressor de sua
filha, se sentia culpado, com remorso e arrependido e fez de tudo para salvar o
agressor. Ele perdeu a cabeça por segundos e foi tomado de uma fúria
incontrolável ao ver uma pessoa querida ser ameaçada de forma grave.
As bases biológicas para este tipo de comportamento se
fundamentam em estudos que descrevem a presença de um "sistema de
comportamento cuidador" no cérebro, com características pró-sociais. Dois
neurohormônios estariam envolvidos na mediação dos efeitos deste sistema,
ocitocina e vasopressina.
Na pesquisa foram realizados experimentos com indivíduos
submetidos a situações de ameaça a pessoas as quais tinham grande empatia. As
variações nos receptores de ocitocina e vasopressina foram avaliadas e os
resultados mostraram uma associação entre variantes dos gens dos receptores de
ocitocina e vasopressina e o grau de agressividade apresentado pelo indivíduo,
evidenciando o papel destes hormônios no fenômeno da agressão ligada à empatia.
A hipótese levantada pela pesquisa é a de que, em humanos, o
sistema de comportamento cuidador estaria associado à agressividade em
situações de ameaça a pessoas afetivamente próximas, e este comportamento seria
mediado pela ocitocina e vasopressina.
Autor: Dr. Gilberto Sanvitto - ABC da Saúde

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