sexta-feira, 15 de outubro de 2021

A formação do ser humano se completa a cada dia em família, na figura do pai e da mãe!

Foto: Reprodução
Hoje os convido a uma pequena reflexão sobre a Família - que é essência, princípio e fundamento, que deve nos acompanhar sempre, posto que é ela o berço formador de cidadãos. Contudo, é triste notar que a família contemporânea vem sendo paulatinamente desconstruída, face ao contexto social em que vivemos. Contexto esse que se caracteriza mais pela aproximação virtual de pessoas, em detrimento do saudável convívio cotidiano, que traz consigo a possibilidade de perceber e vivenciar o inestimável valor dos exemplos a serem seguidos, os quais devem ser obtidos preferencialmente em família.
É preciso lembrar e destacar que é na família onde nasce a essência da educação, é na família onde as pessoas se desenvolvem, onde os preceitos morais são primeiramente vivenciados, aprendidos e repassados. Todos nós iniciamos nosso processo de aprendizado, nossa formação moral, com um princípio muito simples, que os filósofos chamam de polidez. Isso se dá por volta dos dois ou três anos de idade, sem que, para tanto, se faça necessário ir à escola. É ela, efetivamente, o ambiente do convívio, local onde a criança reproduz e exercita aquilo que deve ser aprendido na família: bom dia, boa tarde, boa noite, com licença, por favor, obrigado! São os rudimentos da moral que precisamos e devemos desenvolver, sempre na família, com a família e em família, mas contando com o apoio de outras estruturas sociais, passando pela escola, pela igreja, grupos de amigos e outros ambientes coletivos.
O que não se pode admitir é vivermos um processo de formação de pessoas desagregado, distanciado, dissociado de valores morais. No momento em que o mundo economicamente pujante incita um consumo absurdo, o que se observa é que pai e mãe, não raramente têm dois, as vezes três empregos. Situação que limita, tornando por vezes inviável, o convívio familiar. Delegamos cada vez mais e mais a terceiros a missão de educar nossos filhos. Como resultado, um belo dia, descobrimos que não conhecemos nossos filhos. Ou que, pelo menos não encontramos neles o comportamento que esperávamos ver. Ao contrário, é cada vez mais frequente o depoimento de pais que se queixam de filhos que não lhes pedem sua benção, que se tornaram jovens arrogantes, prepotentes, mal educados. Na verdade isso é fruto de um processo.
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O pior é que há pessoas que, equivocadamente, querem transferir para as escolas a responsabilidade de educar seus filhos. Obviamente que a escola não pode assumir sozinha essa responsabilidade, por mais que ela tenha um papel muito importante, que consiste em, juntamente com os pais, com as famílias, fortalecer, destacar e divulgar os valores morais essenciais à formação de cidadãos. Triste constatar que ao invés de buscar e enaltecer no outro os valores morais, atualmente as pessoas costumam olhar mais para o preço coisas: do tênis, do carro, do smartphone. Tudo isso é fútil, se acaba. É preciso parar e buscar na nossa essência a saída para esse momento que vivemos.
Não tenho dúvida que a violência que enfrentamos hoje é fruto deste processo. O comportamento social do homem contemporâneo se caracteriza a cada dia mais pelo desdém. Ele não liga para o outro! Ele não se vê no outro! Ora, se ele não se vê no outro, como haveria de respeitá-lo? Infelizmente o homem contemporâneo vem a cada dia desconsiderando seu próximo. Vejam bem, há pessoas incapazes de dizer um bom dia, ou mesmo responder a um bom dia.
Nós precisamos, urgentemente, rever tudo isso. Entendo que não há outro local, senão dentro de casa. É na família onde encontraremos as respostas e os meios para que possamos corrigir as graves distorções morais que nos envergonham. Posto que é ela, a família, o principal doador e mantenedor do exemplo de comportamento, de bom caráter e de retidão moral. É também a família o local onde o homem deve aprender e compreender o que é limite. As pessoas precisam ser educadas aprendendo a ter limites! Até onde ir, quando ir, com quem ir, porque não ir... Isso se aprende em casa!
Não faz muito tempo, o limite era exercício corriqueiro no dia-a-dia de crianças e jovens. Havia a hora de ver televisão. Hora de jogar futebol, de estudar, de dormir. Interessante destacar que para tanto, na maioria das vezes, não havia nem mesmo a necessidade de diálogo. Bastava apenas que o pai ou a mãe direcionasse um olhar para o filho e pronto. Tudo estava entendido. Observem que não estou tratando aqui de atitude ou ato autoritário, mas sim de autoridade! Hoje a realidade é diferente e o que observamos é que parece não haver mais limites. Não raro encontramos pais que, talvez como uma forma de tentar compensar sua ausência, parecem querer comprar a obediência, o carinho e a atenção dos filhos. Para tanto lançam mão de toda a sorte de mimos, sobretudo quinquilharias eletrônicas, em especial de preço bem elevado, como se amor de filho fosse objeto de barganha. E o que é pior, diretamente proporcional ao valor do presente ofertado.
O tempo tem nos mostrado que esse caminho equivocado precisa ser mudado. Precisamos observar de uma vez por todas que há uma etapa na formação humana que não pode ser desprezada, aquela da formação moral. Desde criança precisamos entender que o nosso processo de formação se completa a cada dia na figura do pai e da mãe. Nós não podemos viver dissociados disso!
Hoje a crise moral que vivemos se reflete vergonhosamente no mundo político. Todos nos dizemos tristes com o que nos é retratado dia e noite pela imprensa falada, escrita e televisiva: notícias que destacam roubo, dissimulação, desfaçatez, cinismo e hipocrisia. Ao contrário daqueles que procuram explicar o cenário atual pela ótica da política ou da economia, prefiro acreditar que a origem de toda essa triste realidade está no componente da formação moral. Cidadãos de verdade têm pudor, têm limite, têm escrúpulo. Não se comportam de modo tão reprovável.
Portanto, é chegada a ora de mudar. E é dentro de casa que devemos iniciar esse processo. Não há outra solução. Obviamente que sozinhas as famílias não darão conta dessa difícil e longa tarefa. Precisamos contar com o apoio e a participação decisiva das escolas, das igrejas, do poder público. Que comecemos, portanto, restaurando o respeito, condição sine qua non para a convivência ordeira e pacífica de pessoas numa sociedade.


           
Prof. Dr. Vicente de Paulo Teixeira Pinto
Professor do Curso de Medicina da UFC-Campus de Sobral

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