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Hoje
os convido a uma pequena reflexão sobre a Família - que é essência, princípio e
fundamento, que deve nos acompanhar sempre, posto que é ela o berço formador de
cidadãos. Contudo, é triste notar que a família contemporânea vem sendo paulatinamente
desconstruída, face ao contexto social em que vivemos. Contexto esse que se
caracteriza mais pela aproximação virtual de pessoas, em detrimento do saudável
convívio cotidiano, que traz consigo a possibilidade de perceber e vivenciar o
inestimável valor dos exemplos a serem seguidos, os quais devem ser obtidos
preferencialmente em família.
É
preciso lembrar e destacar que é na família onde nasce a essência da educação,
é na família onde as pessoas se desenvolvem, onde os preceitos morais são
primeiramente vivenciados, aprendidos e repassados. Todos nós iniciamos nosso
processo de aprendizado, nossa formação moral, com um princípio muito simples,
que os filósofos chamam de polidez. Isso se dá por volta dos dois ou três anos
de idade, sem que, para tanto, se faça necessário ir à escola. É ela,
efetivamente, o ambiente do convívio, local onde a criança reproduz e exercita
aquilo que deve ser aprendido na família: bom dia, boa tarde, boa noite, com
licença, por favor, obrigado! São os rudimentos da moral que precisamos e
devemos desenvolver, sempre na família, com a família e em família, mas
contando com o apoio de outras estruturas sociais, passando pela escola, pela
igreja, grupos de amigos e outros ambientes coletivos.
O
que não se pode admitir é vivermos um processo de formação de pessoas
desagregado, distanciado, dissociado de valores morais. No momento em que o
mundo economicamente pujante incita um consumo absurdo, o que se observa é que
pai e mãe, não raramente têm dois, as vezes três empregos. Situação que limita,
tornando por vezes inviável, o convívio familiar. Delegamos cada vez mais e
mais a terceiros a missão de educar nossos filhos. Como resultado, um belo dia,
descobrimos que não conhecemos nossos filhos. Ou que, pelo menos não
encontramos neles o comportamento que esperávamos ver. Ao contrário, é cada vez
mais frequente o depoimento de pais que se queixam de filhos que não lhes pedem
sua benção, que se tornaram jovens arrogantes, prepotentes, mal educados. Na
verdade isso é fruto de um processo.
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O
pior é que há pessoas que, equivocadamente, querem transferir para as escolas a
responsabilidade de educar seus filhos. Obviamente que a escola não pode
assumir sozinha essa responsabilidade, por mais que ela tenha um papel muito
importante, que consiste em, juntamente com os pais, com as famílias,
fortalecer, destacar e divulgar os valores morais essenciais à formação de
cidadãos. Triste constatar que ao invés de buscar e enaltecer no outro os
valores morais, atualmente as pessoas costumam olhar mais para o preço coisas:
do tênis, do carro, do smartphone. Tudo isso é fútil, se acaba. É preciso parar
e buscar na nossa essência a saída para esse momento que vivemos.
Não
tenho dúvida que a violência que enfrentamos hoje é fruto deste processo. O
comportamento social do homem contemporâneo se caracteriza a cada dia mais pelo
desdém. Ele não liga para o outro! Ele não se vê no outro! Ora, se ele não se
vê no outro, como haveria de respeitá-lo? Infelizmente o homem contemporâneo
vem a cada dia desconsiderando seu próximo. Vejam bem, há pessoas incapazes de
dizer um bom dia, ou mesmo responder a um bom dia.
Nós
precisamos, urgentemente, rever tudo isso. Entendo que não há outro local,
senão dentro de casa. É na família onde encontraremos as respostas e os meios
para que possamos corrigir as graves distorções morais que nos envergonham.
Posto que é ela, a família, o principal doador e mantenedor do exemplo de
comportamento, de bom caráter e de retidão moral. É também a família o local
onde o homem deve aprender e compreender o que é limite. As pessoas precisam
ser educadas aprendendo a ter limites! Até onde ir, quando ir, com quem ir,
porque não ir... Isso se aprende em casa!
Não
faz muito tempo, o limite era exercício corriqueiro no dia-a-dia de crianças e
jovens. Havia a hora de ver televisão. Hora de jogar futebol, de estudar, de
dormir. Interessante destacar que para tanto, na maioria das vezes, não havia
nem mesmo a necessidade de diálogo. Bastava apenas que o pai ou a mãe
direcionasse um olhar para o filho e pronto. Tudo estava entendido. Observem
que não estou tratando aqui de atitude ou ato autoritário, mas sim de
autoridade! Hoje a realidade é diferente e o que observamos é que parece não
haver mais limites. Não raro encontramos pais que, talvez como uma forma de
tentar compensar sua ausência, parecem querer comprar a obediência, o carinho e
a atenção dos filhos. Para tanto lançam mão de toda a sorte de mimos, sobretudo
quinquilharias eletrônicas, em especial de preço bem elevado, como se amor de
filho fosse objeto de barganha. E o que é pior, diretamente proporcional ao
valor do presente ofertado.
O
tempo tem nos mostrado que esse caminho equivocado precisa ser mudado.
Precisamos observar de uma vez por todas que há uma etapa na formação humana
que não pode ser desprezada, aquela da formação moral. Desde criança precisamos
entender que o nosso processo de formação se completa a cada dia na figura do
pai e da mãe. Nós não podemos viver dissociados disso!
Hoje
a crise moral que vivemos se reflete vergonhosamente no mundo político. Todos
nos dizemos tristes com o que nos é retratado dia e noite pela imprensa falada,
escrita e televisiva: notícias que destacam roubo, dissimulação, desfaçatez,
cinismo e hipocrisia. Ao contrário daqueles que procuram explicar o cenário
atual pela ótica da política ou da economia, prefiro acreditar que a origem de
toda essa triste realidade está no componente da formação moral. Cidadãos de
verdade têm pudor, têm limite, têm escrúpulo. Não se comportam de modo tão
reprovável.
Portanto,
é chegada a ora de mudar. E é dentro de casa que devemos iniciar esse processo.
Não há outra solução. Obviamente que sozinhas as famílias não darão conta dessa
difícil e longa tarefa. Precisamos contar com o apoio e a participação decisiva
das escolas, das igrejas, do poder público. Que comecemos, portanto,
restaurando o respeito, condição sine qua
non para a convivência ordeira e pacífica de pessoas numa sociedade.
Prof. Dr. Vicente de Paulo Teixeira Pinto
Professor do Curso de Medicina da UFC-Campus de Sobral
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