quinta-feira, 28 de abril de 2016

Prematuros: "Disse ao meu filho que, se ele precisasse partir, eu entenderia."



Joice deu à luz Pietro com apenas 26 semanas de gestação. Entre altos e baixos durante o período de internação, sua história teve um final feliz. Confira o depoimento


Com nove semanas de gestação, tive um princípio de aborto. Senti uma cólica muito forte, mas nem tinha feito a primeira ultrassonografia ainda. Estava tomando banho quando a dor começou e tive um sangramento. Chamei meu marido, ele me colocou deitada, mas a dor não passava, então, fomos para o hospital. Fiquei 15 dias de repouso, tomando toda a medicação. Depois disso, a gravidez seguiu aparentemente normal. Não tive nenhum problema de pressão alta ou de diabetes. Estava apenas muito inchada, porque fazia calor demais.
Nas primeiras semanas, havia perdido muito peso por causa dos enjoos. Só que, na última semana antes do Pietro nascer, eu tinha engordado cerca de 3 kg de uma vez. O médico decidiu me afastar por uma semana. Era quarta-feira - eu voltaria ao trabalho na sexta-feira da outra semana.
Na segunda-feira, minha mãe me convidou para passar o dia com ela. Acho que ela sentiu que algo não estava bem. Almoçamos, conversamos e, à tarde, enquanto tomávamos um lanche, ela me perguntou se o Pietro estava se mexendo. E aí eu me toquei que ele não tinha se mexido o dia inteiro. Ela se ofereceu para me levar ao médico, mas preferi esperar pelo meu marido. Ele chegou à noite, me trouxe chocolates, conversou com a minha barriga e nada do Pietro se mexer... Na terça-feira de manhã, levantei, me troquei e avisei meu marido que estava indo para o hospital.

Depois de um ultrassom, a médica me disse que o Pietro estava entrando em sofrimento fetal e  que eu precisava ficar internada. Deveria fazer ultrassons todos os dias, para acompanhar o crescimento e o ganho de peso do bebê, e também para tentar segurar a gestação. A médica explicou que minha barriga e a quantidade de líquido amniótico que eu tinha eram muito maiores que o peso do bebê e, por isso, ele não tinha forças para se mexer.
Saí da sala em estado de choque. Liguei para o meu marido chorando, depois para os meus pais e, em seguida, para a minha irmã. Algum deles precisava ir até lá para fazer a minha internação. Sozinha, esperei na recepção, enquanto conversava com a minha barriga, e chorava, e conversava, e chorava, e nada de o menino se mexer lá dentro.

Mais tensão

Enquanto estava internada, meu marido pediu licença do trabalho para ficar comigo. Descíamos todos os dias para fazer o ultrassom e as respostas eram sempre as mesmas: peso estável, quantidade de líquido boa, mas eu tinha que continuar de repouso. Passava o dia deitada assistindo TV. Vinha a fisioterapeuta, vinha a enfermeira... Até de madrugada, de 2 em 2 horas mais ou menos, alguém entrava no quarto para monitorar os batimentos do Pietro.
No sábado de manhã, dia 11 de outubro de 2014, descemos para fazer os exames e vi que o Pietro estava muito quieto. Não virava dentro da barriga, não se mexia muito. Mas, de certa forma, fiquei tranquila, porque escutei o coração dele.

Perto da hora do almoço, a médica entrou chorando no quarto e me disse que eu não podia comer. Tinha que tomar a anestesia para fazer o parto imediatamente. Meu filho precisava nascer. Havia uma alteração nas minhas artérias uterinas, que levavam oxigênio e alimento para o bebê, o que também poderia afetar a minha pressão arterial. Eu estava correndo tanto risco quanto o Pietro. Minha pressão poderia explodir a qualquer momento.

A chegada de Pietro

Desci para o centro obstétrico e o meu parto aconteceu em 20 minutos. Meu filho nasceu com 560 gramas e 28 cm. Só o vi de longe, bem pequenininho dentro da incubadora. A primeira coisa que eu me lembro de ouvir foi: “Como ele tem os pés e as mãos grandes!”.

Quando Pietro passou por mim, dentro da incubadora, me lembro de dizer: “Oi, a mamãe te ama e você vai ficar bem”. Em seguida, veio uma médica e me falou que ia fazer tudo o que estivesse ao seu alcance pelo bebê e que, se ele sobrevivesse, alguém poderia descer dali a quatro horas para vê-lo. Assim que ela saiu, comentei tamanha falta de sensibilidade com o anestesista. Isso não é coisa para se dizer a uma mãe.

No parto, perdi muito sangue, estava muito fraca. Nem consegui descer para ver o Pietro. Quem desceu foi meu marido e minha sogra. Eu só consegui vê-lo no outro dia, na hora do almoço. Nesse momento, os médicos me preveniram de que eu ia ser uma “mãe de UTI” de muitos meses. E vou contar: isso é como sentar na primeira cadeira de uma montanha-russa. Se você não tem fé ou preparo psicológico, acaba se entregando. São muitos altos e baixos. Uma hora o Pietro estava bem, em outra estava muito mal...

Três provas de fogo


De todo o tempo que ficamos no hospital, me lembro de três momentos terríveis. O primeiro foi quando eu tive alta. Saí do hospital com um monte de presente, flores... E não era nada do que eu queria naquela hora. É muito doloroso ver todas as outras mães saindo com os seus bebês. Você fica se perguntando quanto tempo vai levar para chegar a sua vez.

O segundo momento foi quando Pietro teve uma infecção por fungo, que atingiu até o sistema nervoso central. Ele teve uma parada cardíaca que durou 40 minutos. Foi devastador. Quando vi meu filho, havia 12 bombas de remédios correndo ao mesmo tempo pelo seu corpo, além do nitro oxigênio ao seu lado. A médica me disse que ele tinha 72 horas para responder e para sabermos se ele teria alguma sequela. Nesse dia, me despedi dele. Disse que eu sabia  por que ele veio ao mundo e que se precisasse partir, eu entenderia. Não queria mais que ele sofresse.

No dia seguinte, quando voltei ao hospital, fizemos um exame neurológico e outro de coração. Surpreendentemente estava tudo bem. Uma médica me disse: “Seu filho é um guerreiro, ele quer viver, não quer ir embora. Não desista dele, porque eu não vou desistir”. Com 48h, começaram a tirar as medicações, desligaram a alta frequência, e em 72h, ficaram só os antibióticos e os calmantes.

A última vez que o Pietro quase me matou do coração foi perto do carnaval. Ele já estava com 2 kg, mamava. Estava praticamente tudo pronto para receber alta. Então, os médicos fizeram um teste para tirar os diuréticos. E isso causou um edema no pulmão, que inchou. Resultou: Pietro começou a passar mal de novo. E pior: estava com uma anemia fortíssima. Eu já vinha falando que ele estava branco demais havia uns dias, mas os médicos não me deram ouvidos. Foi nessa ocasião que ele teve de receber a 13ª transfusão de sangue que, graças a Deus, foi a última.

Novo começo 
 
No total, ficamos 5 meses e 22 dias na UTI Neo do Hospital São Luiz Unidade Anália Franco. Viemos com ele para casa junto com o home care – praticamente trouxe o hospital junto. No começo, tínhamos enfermeiros nos ajudando o tempo todo.

Hoje, durante o dia, ele fica tranquilo sem oxigênio extra. Só à noite, que ele fica cansado e precisa usar um pouco. Ele está com 1 ano e meio, mas se comporta como um bebê de 1 ano. Engatinha, só anda apoiado. Está começando a falar... Como pais, temos que incentivar e estimular, mas também precisamos respeitar o tempo dele. Nem todo mundo entende os cuidados que tempos com o Pietro. Às vezes, me dizem que criança tem que se sujar, ficar na terra. Eu concordo. E o Pietro vai fazer tudo isso. Só que no tempo dele. 
 


Fonte: G1













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