Alergia: Como é desencadeada no organismo e de que maneira pode ser tratada
Especialista aborda os cuidados necessários para evitar esse desconforto vivenciado por muitas pessoas com diferentes gatilhos
São Paulo, março de 2024 - A alergia está presente
no dia a dia de muitas pessoas e, muitas vezes, pode ser confundida com
outras doenças, como a gripe. Basta presenciar o nariz coçando ou
enfrentar alguns espirros e tosse, que alegam estar com alergia, o que
em alguns casos, pode não ser verdade. Afinal, você sabe o que realmente
é considerado alergia? Para esclarecer as principais dúvidas, o Dr. Nelson Rosário Filho, Professor e Coordenador do Programa de Residência em Alergia e Imunologia Pediátrica da UFPR, explica mais sobre o tema.
“A alergia é uma reação do corpo a uma substância que ele entende
como “inimiga”¹. Essa reação acontece após o organismo entrar em contato
com os alérgenos, substâncias consideradas nocivas pelo organismo de
quem tem predisposição à alergia e que o sistema imunológico não
consegue tolerar2. Após o primeiro contato com o alérgeno, os
leucócitos, que são as células de defesa, produzem os anticorpos IgE,
que, por sua vez, são considerados o exército de defesa. Esse primeiro
contato não gera sintomas de alergia, mas liga um alerta no organismo¹.”
esclarece o especialista.
O médico ainda acrescenta que caso o corpo seja novamente exposto
àquele alérgeno, o anticorpo IgE que foi produzido é acionado e há a
liberação da histamina, substância química nos mastócitos (células que
podem ser encontradas na pele, no sistema respiratório e no trato
gastrointestinal), resultando em sintomas de alergia, como coriza,
espirros e olhos lacrimejando, sendo esta a resposta imune do organismo e
que, muitas vezes, é confundida com a gripe¹.
Atenção redobrada com os pequenos:
“A escola pode ser um dos locais mais críticos para a piora das
alergias respiratórias. Isso ocorre devido à localização em áreas
urbanas revelam alta exposição a partículas dos veículos motorizados,
indicando as fontes antropogênicas de poluentes perto de escolas. Além
disso, o ambiente escolar é determinante por facilitar a disseminação de
agentes infecciosos virais e com os resfriados facilitar as crises de
asma e piora das alergias. No início do outono a concentração de
alérgenos de ácaros no ar atinge um pico, a volta às aulas também
contribui para mais sintomas nos que são alérgicos ao pó de casa e
ácaros. É importante tratar a rinite alérgica para obter o controle dos
sintomas, especialmente nesta época do ano.” Afirma o especialista.
Tipos de alergia
De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), as alergias mais frequentes são as das vias respiratórias3, como rinite e asma2, as alergias de pele, como dermatite atópica, de contato e urticárias2,3, existem também as alergias provenientes de picadas de inseto, alimentos e medicamentos2, até as alergias mais diferentes, como alergia ao frio e à água3.
Principais ‘gatilhos’ da rinite alérgica
Dr. Nelson explica que é importante estar atento aos fatores do
cotidiano que podem favorecer a aparição da alergia: “Um deles são os
ácaros, que costumam se localizar principalmente nos colchões e
travesseiros e são os principais responsáveis por prejudicar o nariz de
quem sofre com rinite alérgica4. Outro desencadeador e que é
muito presente dentro de casa são os pets, que liberam componentes
prejudiciais para a alergia. Nos gatos, por exemplo, o principal gatilho
é produzido pelas suas glândulas sebáceas e posteriormente secretado
pela pele do animal4.”
Ele ainda cita outros desencadeadores da alergia: “Os poluentes do ar
também são fatores agravantes da alergia respiratória. A poluição
proveniente da eliminação dos combustíveis derivados do petróleo pelos
automóveis nas grandes cidades também é capaz de acentuar a alergia4, além de outros fatores, como: como fungos4, pólen4, entre outros.”
Como evitar e tratar uma crise alérgica respiratória?
Para evitar uma crise alérgica, o Dr. explica que alguns cuidados são
necessários: “O principal é garantir a redução do contato com as
substâncias que causam a sensibilização do organismo, ou seja, os
gatilhos da alergia5. Algumas dicas simples, mas eficazes,
são: manter uma rotina de limpeza dentro de casa, evitar o acúmulo de
poeira, combater os pontos de mofo e umidade, manter o ambiente arejado,
permitir a entrada de sol e higienizar e trocar com frequência os
lençóis e travesseiros5.”
“Entender o que está causando a alergia e efetuar o controle
ambiental, ou seja, cuidar para que o paciente não tenha contato com os
alérgenos, também são forma de tratamento, segundo a ASBAI6. Medicamentos, como os anti-histamínicos, também são indicados para combater os sintomas da alergia6.
Os antialérgicos de 2ª geração não causam sono, tem rápida ação e tem
efeito prolongado. É importante lembrar que o tratamento é individual,
não há um só caminho que funcione para todos7. É necessário
levar em consideração as particularidades de cada paciente e enfatizar a
importância de um especialista para indicar o melhor caminho a ser
seguido7.” finaliza Dr. Nelson.
“A congestão nasal e qualidade do sono têm que ser observados no
paciente com rinoconjuntivite alérgica. Anti-histamínicos por via oral
são classificados entre primeira geração e segunda geração conforme
efeitos colaterais observados. Vários medicamentos utilizados para o
tratamento das alergias, entre eles os anti-histamínicos, são indicados
para a rinite alérgica, mas a recomendação das diretrizes nacional e
internacional é prescrever os anti-histamínicos de segunda geração,
também conhecidos como não sedantes. Esses não causam sonolência e nem
interferem com o sono repousante. Uma das fases do sono é conhecida como
REM (Rapid Eye Movement), quando se atinge o ponto de recuperação do
dia e pleno descanso.”
O impacto da qualidade do sono no aprendizado
De acordo com o Dr. Nelson os estudos da ação de diferentes
anti-histamínicos na qualidade do sono demonstraram que aqueles que
causam sedação (primeira geração), além de bloquear o sono REM, deixam
efeito residual de sonolência no dia seguinte, fadiga, interferem na
psicomotricidade e na perda da capacidade de concentração, com
consequência direta no aproveitamento escolar. A fexofenadina é um
anti-histamínico não sedante com segurança e eficácia demonstradas a
partir de 6 meses de idade.
“Fármacos não sedantes, são os que não atravessam a barreira
hemato-encefálica (BHE). A fexofenadina não atravessa a BHE e não atinge
o sistema nervoso central (ocupação de 0 H1R0). Artigos científicos de
revisão sistemática e análises pós-comercialização compararam a ação
antihistamínica potencial de fexofenadina e outros anti-histamínicos ou
placebo em indivíduos saudáveis e com alergias proporcionando
informações seguras sobre a superioridade da fexofenadina.”
Dr. Nelson salienta que "é possível reduzir o impacto das alergias na
qualidade do aprendizado infantil por meio de ações de diagnóstico,
prevenção e tratamento, as quais podem ser implementadas de forma
colaborativa entre responsáveis, professores e profissionais da saúde. A
identificação de alergias em crianças, especialmente aquelas que ainda
não conseguem se comunicar eficientemente, pode representar um desafio.
No entanto, é possível observar os sintomas visíveis das alergias."
Referências
1 – Alergias. MSD Manual Família. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/SearchResults?query=alergia. Acesso em 24 de maio de 2023
2- Goudouris ES, Kuschnir FC, Janolio FSC, Emerson MFE, et al. A
doença do século XXI - Alergia. Perguntas e Respostas. ASBAI - RJ.
Disponível em: http://www.sbai.org.br/imagebank/ALERGIA-PERGUNTAS-E-RESPOSTAS.pdf. Acesso em 24 de maio de 2023.
3 - Associação Brasileira de Alergia e Imunologia.
Alergias: saiba como acontecem e conheça as mais comuns. Disponível em https://asbai.org.br/alergias-saiba-como-acontecem-e-conheca-as-mais-comuns/. Acesso em 6 de junho de 2023.
4 - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E
CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL. III Consenso Brasileiro sobre Rinites.
Brazilian Journal of Otorhinolaryngology. São Paulo. Nov.-dez. 2012.
Disponível em: https://www.aborlccf.org.br/consensos/Consenso_sobre_Rinite-SP-2014-08.pdf. Acesso em: 10 nov. 2021.
5 - Asma e Rinite - Respirando melhor. Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Disponível https://asbai.org.br/wpcontent/uploads/2015/12/EBOOK-ASBAI-Asma-e-Rinite-Junho-2022.pdf. Acesso em 9 de março de 2023.
6 - A Doença do Século XXI - Alergia - Perguntas e
Respostas. Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia Regional
Rio de Janeiro. Disponível em http://www.sbai.org.br/imagebank/ALERGIA-PERGUNTAS-E-RESPOSTAS.pdf. Acesso em 16 de março de 2023.
7 - Galvão CES, Castro FFM. As alergias respiratórias. Rev Med (São Paulo). Disponível em https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/download/59237/62253. Acesso em 9 de março de 2023.
8 - MAT-BR-2400596.
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