quarta-feira, 16 de agosto de 2017

O fenômeno das Ligas Acadêmicas na Enfermagem (Artigo - Carlos Romualdo/Enfermeiro)

Foto: Liga de de Enfermagem de Saúde da Família/UVA-CE (2016)
O intuito desse rápido diálogo é discutir sobre o ‘boom’ das Ligas Acadêmicas nas últimas décadas na enfermagem. A saber, as Ligas são percebidas como possibilidades de extensão universitária, de modo mais geral, e têm se configurado parte do cotidiano dos estudantes da área da saúde, no caso a enfermagem. Não temos um conceito claro do que são as Ligas Acadêmicas, diversas definições podem ser encontradas assim como uma variedade de objetivos e funções que são estabelecidos e relacionados a elas. Contudo, sabemos que as Ligas são entidades constituídas fundamentalmente por estudantes, que procuram aprofundar temas em uma determinada área, sob a orientação docente.

De acordo com os dados históricos, a primeira Liga Acadêmica foi criada em 1920, na Faculdade de Medicina de São Paulo, a ‘Liga de Combate a Sífilis e outras doenças sexualmente transmissíveis’. A expansão das Ligas deu-se em um momento de grande tensão político-social, correspondente aos anos da ditadura militar. Mesmo de posse que as primeiras ligas no País foram fundadas já há algumas décadas, ainda são escassas as publicações e os estudos sobre esse assunto, tanto é que não encontramos dados precisos de qual foi a primeira liga de enfermagem no Brasil.

A partir da década de 1990, com acentuação no início do século XXI, mais e mais Ligas foram criadas em todo o Brasil, coincidindo com períodos de reformas curriculares e intenso debate político e acadêmico.

No campo da enfermagem, as Diretrizes Curriculares Nacionais publicadas a partir do final de 2001, recomendam como eixo do desenvolvimento curricular as “necessidades de saúde mais frequentes” e sugerem que sejam utilizadas metodologias que privilegiem a integração entre o ensino, a pesquisa, a extensão e a assistência, desenvolvendo atitudes voltadas para a cidadania.

Para que possam atingir esses objetivos, os currículos devem proporcionar diferentes cenários de ensino-aprendizagem, propiciar uma interação ativa entre usuários e profissionais de saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS), e vincular à formação acadêmica as necessidades sociais da saúde desde o início da sua formação.

Essa busca por atividades didáticas que estimulem a criatividade e o trabalho em equipe, assim como incitar iniciativas para a autoaprendizagem e o espírito crítico-reflexivo, preparam o acadêmico para as constantes ‘metamorfoses’ do conhecimento em um mundo moderno, bem como para os avanços técnico-científicos. Com isso, o modelo clássico/tradicional que atua de forma verticalizada: professor-aluno, já não atende mais às necessidades dos alunos.

 Nesse cenário, as ligas acadêmicas surgem como formas alternativas de estimular e compartilhar experiências docentes e, principalmente, discentes ainda durante a formação.

 As atividades das Ligas fundamentam-se no tripé universitário: ensino, pesquisa e extensão. No âmbito do ensino, incluem-se aulas teóricas, discussão de casos, eventos como: seminários, jornadas, cursos, minicursos e atividades práticas, como o acompanhamento em ambulatórios, Centros de Saúde da Família (CSF) e outros serviços.

As atividades de promoção à saúde e prevenção de doenças e agravos, são uma das mais importantes atividades das Ligas. Podendo ser realizadas campanhas de saúde, Blitz educativa, dentre outras ações. Essa convivência direta e a experiência diária podem contribuir na escolha da futura especialidade da área da enfermagem pelos alunos.

Iniciativas como essas podem contribuir para a formação dos futuros profissionais de enfermagem, promover a inter e multidisciplinaridade, além de estimular o interesse pela pesquisa, assim como contribuir para a educação permanente, conforme recomendam as Diretrizes Curriculares Nacionais.

Percebe-se, portanto, que as experiências vivenciadas nas Ligas podem contribuir com o desenvolvimento do aluno e na construção de saberes e fazeres com benefícios para a comunidade. Além disto, tenciona-se aqui a reflexão sobre avaliação das Ligas Acadêmicas na enfermagem, não no intuito punitivo, mas a possíveis desvios de seus objetivos, para que não se tornem uma especialização precoce, todavia, sejam catalisadoras no processo de ensino-aprendizagem.

Por Carlos Romualdo (Enfermeiro)

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