sábado, 24 de junho de 2017

Carta aberta da Presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia sobre as dificuldades para a manutenção da Terapia Renal Substitutiva (TRS) no País

   
 Carta da Nefrologia
    A Terapia Renal Substitutiva (TRS) é um tratamento que visa salvar e manter vidas.
    A diálise existe no Brasil desde a década de 60, ou seja, é um tratamento recente que, em pouco tempo, teve grandes avanços científicos e tecnológicos visando a qualidade de vida dos pacientes.
    Em menos de 50 anos, o número de pacientes com doença renal em tratamento de diálise no país aumentou de 500 para 122.000 pacientes, sendo que 86% dos pacientes são atendidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
    Um em cada 10 brasileiros tem algum grau de lesão renal, e deve ser orientado e educado para buscar o especialista para diagnóstico correto e tratamento apropriado.
    O número de nefrologistas, especialistas na saúde e doença renal, hoje no Brasil é de cerca de 4.000, distribuídos pelo país com algumas regiões de concentração e outras de carência.
    O número de clínicas não tem aumentado conforme a demanda, e hoje temos clinicas superlotadas na maioria dos grandes centros.
    O tratamento é de alto custo e implica a utilização de equipamentos e insumos importados.
    É um tratamento complexo, que exige profissionais qualificados, treinados e dedicados.
    O valor pago pelo tratamento tem sido entretanto muito inferior ao custo. Embora o Ministério da saúde invista 2.7 bilhões anuais na TRS brasileira, este valor está praticamente inalterado há cerca de 5 anos. Depois de 4 anos houve um reajuste no valor de 8,47%,  que porém foi insuficiente pois não cobriu a alta dos insumos e materiais, nem os dissídios trabalhistas da categoria e nem mesmo a inflação do período.
    Sabemos que o País atravessa uma grande crise econômica, social e política, mas não podemos nos abater e devemos acreditar que sairemos dela.
    Já enfrentamos outras crises e nossa capacidade e determinação nos permitiram até o presente sobreviver a elas.
    Os nefrologistas cumprem seu dever cívico alertando as autoridades da insustentabilidade da TRS brasileira, e honram seu juramento fazendo o possível e o impossível para manter o tratamento de seus pacientes com qualidade e segurança. Não somos milagreiros.
    Apelamos por soluções em vários níveis, e destacamos que sobrevivência do sistema depende de estrutura, inovação e sustentabilidade, mas a curto prazo é imprescindível o adequado reajuste dos valores pagos aos tratamentos.

 
 Carmen Tzanno Branco Martins
 Presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia

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