Já está cientificamente bem estabelecido que o consumo de
açúcar, principalmente o contido em produtos não nutritivos como refrigerantes
e sucos adoçados, está associado a uma maior incidência de sobrepeso,
obesidade, hipertensão e diabete, além de outras doenças de origem
inflamatória.
Nas ultimas décadas uma alternativa para as pessoas que
não querem deixar de tomar refrigerante tem sido o refrigerante ou suco
"diet". Como a substância usada para adoçar a bebida não contém
calorias, teoricamente o seu consumo não teria nenhuma repercussão energética
ou metabólica. Entretanto, alguns estudos recentes têm constatado um
paralelismo entre o grande aumento na incidência de obesidade (considerado uma
epidemia por seu rápido crescimento e distribuição pelo planeta) e o consumo
aumentado de produtos "diet", principalmente bebidas.
Apesar destes estudos não estabelecerem uma relação de
causa e efeito, eles serviram de alerta para o fato que, talvez, os produtos
"diet" não sejam tão benéficos e inócuos como se pensava. A partir
daí foram feitas novas pesquisa oferecendo um conjunto de evidências altamente
sugestivas de que as bebidas "diet", além de não colaborar para o
controle de peso, podem, também, ser prejudiciais à saúde.
O estudo mais recente abordando esta questão foi
publicado na última semana na revista científica Journal of the American
Geriatrics Society. A pesquisa foi conduzida por 10 anos em participantes de 65
anos ou mais e o principal desfecho registrado foi a circunferência abdominal. Esta
medida tem se tornado de grande importância na avaliação da obesidade e suas
consequências (mais importante que o peso e o índice de massa corporal), pois
ela reflete o crescimento da gordura visceral. Este tecido adiposo em especial
é um dos principais locais de produção de substâncias pró-inflamatórias
liberadas na circulação (chamadas de citocinas) e que atuam sobre os vasos
sanguíneos e sobre o metabolismo, aumentando o risco de síndrome metabólica,
diabete tipo 2, hipertensão e doença cardíaca.
Os resultados da pesquisa não deixam de ser
surpreendentes. No final de um período máximo de 10 anos, os participantes que
tomavam regularmente bebidas "diet" apresentaram uma circunferência
abdominal até 3 vezes maior que aqueles que não tomavam nenhum tipo de bebida
adoçada ou "diet" e houve uma curva dose-resposta entre a quantidade
tomada e o aumento da circunferência abdominal, abordagem esta que é sugestiva
de uma relação causa/efeito.
A explicação para estes achados ainda não é completa e
muitos estudos ainda precisam ser realizados para o pleno entendimento do
fenômeno. Entretanto, já existem evidências científicas que propõem dois
possíveis mecanismos: - um deles sugere que ação do adoçante artificial sobre o
centro de recompensa no cérebro é semelhante ao açúcar natural. Desta forma, a
ingestão em excesso levaria a uma tolerância do centro de recompensa (para
sentir o mesmo efeito de bem estar é necessária uma quantidade maior) e aí o
indivíduo ingere açúcares naturais sob outras formas para saciar esta
necessidade; - outra proposta mais recente, e que não exclui a anterior, é
baseada em resultados demonstrando que adoçante artificial tem efeito na
modificação da microbiota intestinal (conjunto de trilhões de bactérias que
habitam nosso trato gastrointestinal e que influenciam vários aspectos do nosso
funcionamento normal, do metabolismo ao sistema imunológico) levando a
alterações metabólicas que induzem a um maior armazenamento de energia no
abdome.
Independente de qual o mecanismo, já está claramente comprovado
que para manter uma boa saúde o indivíduo deve se afastar dos refrigerantes, de
qualquer tipo, e dos sucos com açúcar ou adoçante artificial.
É isto aí, em qualquer idade, em vez de refrigerante
zero, zero refrigerante!
Autor: Dr. Gilberto Sanvitto - ABC da Saúde
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