domingo, 26 de junho de 2016

O Visconde de Saboia

Sobral tem sido celeiro para o surgimento de celebridades de destaque não só no Ceará como no resto do País. Para isso tem contribuído principalmente a educação, que vem atrelada a uma religiosidade marcante. Por outro lado, sua ligação com a Europa e com o resto do País transformou o Porto de Camocim numa porta aberta de Sobral para o mundo.

Também o ciclo do couro deu fausto e riqueza à cidade, produzindo uma elite que não dispensava educar descendentes em centros educacionais superiores por este Brasil afora e também em capitais europeias. Foi assim que Sobral veio a se tornar a Princesa do Norte.

Entre as personalidades surgidas em Sobral merece destaque Vicente Cândido Figueira de Saboia, o Visconde de Saboia. Há notícias dele em vários manuais que tratam da Literatura Cearense, mas principalmente em compêndios voltados para a história da Medicina brasileira. Faltava, no entanto, um trabalho que prospectasse com mais profundidade, a sua história de vida e sua contribuição para o ensino médico nacional. Por isso que é indispensável agora "Visconde de Saboia: A Filosofia como princípio e a Medicina como missão", da Autoria de Gerardo Cristino Filho e Giovana Saboya Mont'Alverne, editado em 2011 pela Sobral Gráfica e Editora.

Nesse livro, os autores começam por apresentar a Sobral do Século XIX, trazendo informações sobre os estudos primários do biografado. Depois se aprofundam na pesquisa sobre seu estudo médico no Rio de Janeiro, seus estágios na Europa, e em seguida sua atuação como professor na própria escola em que se formou médico. O ponto alto, no entanto, foi sua nomeação como Diretor da Faculdade de Medicina. Só assim ele contribuiu para as reformas no ensino médico, tornando-se um referencial em todo o Brasil, nessa área. Daí foi fácil chegar a ser escolhido como médico da Casa Imperial, e receber o título de Visconde, do Imperador Dom Pedro II.

Vicente Cândido Figueira de Saboia nasceu em 1835. Depois dos estudos preliminares em Sobral, aos 14 anos já se encontra em Recife onde concluiu o Curso de Humanidades. Aos 18 anos inicia o Curso de Medicina, no Rio de Janeiro, graduando-se aos 23 anos. Por concurso, em que logrou o primeiro lugar, ingressou como professor na mesma faculdade em que se formou. Sua carreira de sucesso o levou a Diretor da Faculdade em 1881, permanecendo até 1889. Só deixou o cargo porque com a queda da monarquia ele preferiu exonerar-se como forma de ser solidário com o Imperador, que além de lhe outorgar o título de Visconde, o tinha como médico da Família Imperial.

Após todo esse périplo profissional pela área médica, Visconde de Saboia dedicou-se à Filosofia. Como não se considerava satisfeito com o materialismo em torno do qual transitara por longos anos, dedicou-se aos estudos filosóficos sob um viés religioso. Deixou o tratamento do corpo para se dedicar ao tratamento do espírito. Foi após essa mudança de perspectiva que o médico transformou-se em filósofo, produzindo uma significativa obra com o título "A vida psíquica do homem". A essa altura da biografia do Visconde, Gerardo Cristino e Giovana Saboya apelam para os estudos do Padre Sadoque de Araújo para clarear ainda mais a personalidade do Visconde, após essa mudança de médico para filósofo.

Sua filosofia de aspecto religioso tem como referencial teórico os ensinamentos de São Tomás de Aquino. Sua obra de cunho um tanto escolástico reage aos exageros do materialismo e possui um viés ontológico que a partir da virada linguística, tornou-se menos prospectada pelos novos filósofos. Há, no entanto, nas suas teorias "a natureza da inteligência e suas relações com o sistema nervoso, a espiritualidade e a imortalidade da alma, os hábitos e os instintos humanos", conforme acentua a seu respeito o Padre Leonel Franca.

Esse livro de Gerardo Cristino e Giovana Saboya se completa mostrando como foram os últimos anos de vida do Visconde. Recolhido em sua moradia em Petrópolis, tornado um verdadeiro asceta, respeitado até internacionalmente, Visconde de Saboia faleceu em 1909. A partir desse momento de sua existência, os autores, como parte dos Apêndices do livro, colocam, em suas páginas, elementos elucidativos importantes sobre a vida do homenageado. Começam elaborando a Árvore Genealógica da Família Saboia e depois elaboram uma Cronologia detalhada do Visconde. Além disso transcrevem extenso artigo de Fernando Augusto Ribeiro Magalhães em torno de "Saboia e seu tempo".

Para finalizar o livro, os autores transcrevem o Prefácio que Visconde de Saboia escreveu para seu livro "A vida psíquica do homem". Esse Prefácio, transcrito com a ortografia original do livro, que foi publicado em 1903, traz, resumidos em 27 páginas, todos os postulados filosóficos presentes na sua mais significativa obra literária. É nesse ponto que os autores concluem essa pesquisa detalhada em torno de Visconde de Saboia, apresentando a vasta Bibliografia de onde garimparam tantos detalhes da vida desse ilustre sobralense. Quanto ao leitor, só resta sentir-se compensado pela agradável leitura do livro e concordar com o apresentador da obra, Henry Campos, de que Gerardo Cristino e Giovana Saboya com essa biografia criteriosa, ressuscitaram o Visconde de Saboia para as gerações mais novas e futuras.

Por: Batista de Lima
Fonte: Diário do Nordeste

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